sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O que é mesmo Vocação?


O mês de agosto no Brasil tem sido já há alguns anos dedicado às vocações e a sua importância para a vida da Igreja. No entanto, existe ainda muita confusão no meio do nosso povo, ou melhor, falta mais esclarecimento do que significa vocação. Para uns falar em vocação é a mesma coisa que profissão, para outros vocação seria uma aptidão com a qual a pessoa nasce, para outros ainda vocação é coisa de padre e freira. Em meio a tantas afirmações gostaria de contribuir um pouco para tentar esclarecer o real significado do conceito de vocação à luz da teologia.
Se se vai à raiz da palavra vocação encontra-se simplesmente “chamar”, do verbo latino vocare. No entanto, a tradução do termo vocatione, que quer dizer chamado, convite, apelo, ganhou no meio popular um sentido mais voltado para aptidão, afinidade, inclinação do que propriamente para aquilo que ela aponta, isto é, um convite que o próprio Deus faz a cada ser humano para realizar uma missão.
Quando pensamos vocação no sentido mais profundo e teológico, evita-se compreendê-la simplesmente no âmbito de gosto pessoal, pois não basta apenas gostar é preciso antes ouvir a vox Dei (voz de Deus) perguntar qual é a vontade d’Aquele que chama e dar uma resposta. A vocação, portanto, não é uma auto-realização, como sinônimo de realização profissional, de status ou sucesso advindo do exercício profissional, mas sim, realização de um projeto que vem de um Outro e realiza a pessoa à medida que esta se abre ao Outro. O sentir-se realizado na vocação deve ser sempre consequência da concretização de um projeto que não é meu, mas de Deus. Por isso a vocação é mistério, é muito mais que uma tendência, um desejo pessoal, ela desperta em cada pessoa uma força misteriosa do chamamento.
A vocação só pode ser entendida teologicamente, porque ela é uma realidade teológica. Por mais que se queira valer de estudos muito avançados, não teremos respostas a todas as interrogações. Pode-se dizer, que do ponto de vista da Teologia, “vocação é o chamado de Deus dirigido a toda pessoa humana, seja em particular, seja em grupo, em vista da realização de uma missão ou serviço em favor da comunidade”. Nesta perspectiva a vocação não é excludente, mas sim um convite que Deus faz a cada pessoa, para que o seu plano de amor seja realizado.
A partir desta contestação pode-se afirmar que a vocação não é uma criação humana, ao contrário, é antes uma iniciativa divina, e que cabe a pessoa apenas responder a este apelo. É como nos diz o evangelista João no capítulo 15 versículo 16: “Vós não me escolhestes a mim, eu vos escolhi a vós e vos destinei para irdes dar fruto, e para que o vosso fruto permaneça”. A vocação que cada um recebe não é para si, mas para a missão. Não somos donos da nossa vocação, enquanto ela é um meio, nós somos instrumentos para que a vontade de Deus, isto é, a edificação do Reino, que começa aqui e agora, seja conhecido e aderido por todas as pessoas.
Vale lembrar desse modo que a vocação não está e nem pode ser reduzida ao ser padre ou freira, como costuma-se ouvir com certa frequência no meio do povo. Primeiro seria um empobrecimento do próprio conceito de vocação, e segundo “criaríamos uma espécie de classe superior, os vocacionados e os não vocacionados”, como nos recorda José Lisboa em seu livro Teologia da Vocação. Todas as pessoas são chamadas a uma vocação, isto é, dar uma resposta à Trindade, ao seu projeto de amor reservado a cada um de nós. Não importa para qual vocação Deus o está chamando, pois o essencial não está em ser padre, freira, um leigo casado ou solteiro, mas sim em fazer da vocação um ato de entrega e serviço ao próximo, aí reside a verdadeira vocação. Quem consegue viver sua vocação dessa forma encontrou o seu tesouro.
Pe. Eliseu Donisete de Paiva Gomes

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