quarta-feira, 31 de agosto de 2011

TESTEMUNHO VOCACIONAL - Um caminho um caminhante!


Testemunho Vocacional do Seminarista Alexandro Marques (1º ano de Teologia)

Coloco aqui a minha história, mas isso de dizer minha é um pouco egoísta, vou colocar um caminho e um caminhante nele.

Começou num dia que eu sai de casa para começar o caminho de seguimento de Jesus, com 12  anos de idade, subi num ônibus e ainda contemplo aquele momento e na minha cabeça o inicio de uma aventura. Pensava voltar o quando antes para casa, disse a Deus que um mês somente e estaríamos “quites”. Mas ao terminar aquele mês eu não pude dizer não, e assim entrei no seminário em Curitiba, na congregação dos Legionários de Cristo, na qual eu vivi 15 anos com muito amor. Muitas coisas marcaram minha vida, mas esse amor por Deus e por suas coisas foi sempre o mais forte.

No terceiro ano de seminário minha mãe adoeceu e faleceu, algo muito forte para mim e crucial na minha vida, foi uma crise muito grande para mim. Mas graças a Deus a força que minha mãe sempre me transmitiu e apoio do meu pai eu fui adiante. E esse momento foi forte pois tive que dar a notícia para meus irmãos, imagem que sempre me ajudou para ver as pessoas que precisam, eu não tive que falar muito mas escutar muito, e até hoje tem sido escutar muito e falar o necessário.

Depois de algum tempo voltei para o seminário, fui para o noviciado passei anos de muita intimidade com Cristo, egoísmo da minha parte pois fui uma luta me entregar a Deus, eram momentos que passavam muitas coisas na minha cabeça. Bem mas não conseguia dizer não, fiz os votos. A continuação sai do Brasil, primeiro Estados Unidos, tudo era novo e meus horizontes foram abrindo, aprendi muito com um formador que tive lá sobre o que é ter um verdadeiro coração sacerdotal. Mas como sempre, tive uma crise muito forte nesse período, pois além de estar respondendo ao Senhor eu queria responder o convite que uma pessoa me fez ao aparecer na minha vida, aí quase deixei tudo para fazer aquilo que eu queria, não era mal... mas eu não consegui não continuar nesse caminho, tive que centrar-me e conversar com a pessoa que tinha aparecido na minha vida para podermos continuar cada um por seu lado.

Depois de um ano e meio nos Estados Unidos, atravessei o Oceano e fui para Itália, Roma, para estudar filosofia, depois dos estudos humanísticos que foram muito, mas muito formativos para mim em todos os sentidos. Eu entrei num mundo de pensamentos, eu que gosto muito das coisas mais praticas. Mas tudo bem, aí foram 2 anos, muito bons em que viajei para vários lugares e países, pude conhecer João Paulo II, cumprimentar o Papa Bento XVI, cardeais....

            Depois da primeira etapa de filosofia vim para Curitiba, trabalhar na formação dos seminaristas menores, aí foram anos muito dedicados para ajudar aqueles adolescentes a descobrir seu caminho e formar-se. Acho que cumpri aquilo que Deus me pedia aí. O caminho aí se fez difícil pois tive uma escolha que fazer, algo me tocava nesse caminho, vida religiosa ou vida diocesana, continuei na vida religiosa, o caminho é o mesmo mas muda as circunstâncias lugares e atração para responder, pois o caminho é o mesmo do Senhor. Depois de muita aventura em Curitiba, amizades feitas, me dediquei muito para renovar aquela casa em que vivia, me apeguei muito mesmo a tudo. Mas acabou e voltei para Roma continuar os estudos, passado algum tempo sentia muito tocado a fazer uma experiência diferente, ir para uma diocese para ver se era ali que o Senhor me chamava, passou um tempo foi difícil dar esse passo, pois eu me estava aventurando em algo desconhecido, sendo que lá eu tinha tudo. Estava estudando na Europa, e em pouco tempo poderia ser ordenado. Mas nem isso me consolava.

Então eu vim para o Brasil, para diocese de Apucarana, fui acolhido pelo Bispo pelos formadores, pelos companheiros e por muitas pessoas que me acolheram. Isso me fez ver a Mão do Senhor atuando no meu caminho. Não vou dizer que foi um caminho de rosas, mas encontrei muito espinho. Mas posso dizer que estou muito feliz por estar aqui seguindo esse caminho, eu sei que como toda aventura tem momentos difíceis, mas a grande alegria é poder dizer eu tive a coragem, essa coragem tem vindo do Senhor e que olhou nesse caminho e não consegui desviar meu olhar do seu. Sou Feliz. Como me dizia um bispo em Roma: “Ali onde você escolher estar e estiver feliz, Cristo vai estar feliz com você, se Ele está feliz.”

Não esqueço da minha Mãezinha do céu que não coloquei mas poderia ter narrado minha só com os olhos dela, quando entrava o caixão da minha mãe na Igreja lembro de escutar um sido e estar na frente de uma imagem de Nossa Senhora dizendo: Agora sou só seu Mãe, tu irás cuidar de mim. Ela marcou sempre minha vida e minha entrada oficial na diocese tem sido dia dedicado a Nossa Senhora de Lourdes a padroeira da diocese.

Por tudo isso dou graças Deus, e sigo no caminho...


Agradecemos ao Seminarista Alexandro Marques por ter compartilhado conosco seu lindo testemunho. Que você, caro vocacionado, possa se inspirar neste testemunho para ter forças de dar o SIM que Deus tanto espera de você!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ministérios não ordenados:Compromisso de serviço à Comunidade


Rezemos nesta 4º Semana do Mês Vocacional por esta vocação tão maravilhosa em nossa Santa Igreja: A Vocação Leiga (Ministérios não ordenados). Esses que são nossos catequistas, ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, trabalham na Liturgia, ação social e em tantos outros movimentos da Igreja. Pessamos ao Senhor que os cumule de bençãos, para que possam continuar com suas missões e não desanimem perante as dificuldades, afinal, Cristo não nos prometeu vida fácil, mas sim, a Salvação Eterna!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PRÓXIMO ENCONTRO VOCACIONAL


Pessoal, fiquem atentos e já marquem este compromisso com Deus. Nosso 3º Encontro Vocacional deste ano acontecerá nos dias 10 e 11 de setembrono Seminário Maior São João Maria Vianney.
Cristo e nós do SAV contamos com sua presença. Não deixe que a chama do amor de Deus se apague. Respondam positivamente à Deus.

Memória de profetas no mês vocacional



Nesta época em que a palavra é tão frequentemente banalizada e o anúncio da verdade pode ser confundido com publicidade, é cada dia mais importante que o povo de Deus conte com o testemunho de pessoas consagradas que realmente praticam aquilo que falam e são para todos referências de fé e amor fraterno. Neste mês de agosto, nós brasileiros, recordamos dois pastores que marcaram muito a caminhada de nossa Igreja nos últimos séculos e foram verdadeiros profetas do amor evangélico. Dom Helder Pessoa Camara, arcebispo de Olinda e Recife e dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG) e ex-presidente da CNBB. Ambos partiram para a casa do Pai no dia 27 de agosto. O primeiro em 1999 e o segundo em 2006.
A missão de uma pessoa religiosa é ser testemunha da presença divina no mundo e atuar para que a sociedade se transforme de acordo com o projeto divino que é de paz e justiça para todos. Quando por vários motivos, quem crê em Deus está sentindo dificuldade de ser para a humanidade sinal de esperança, é bom recordar como esta profecia foi forte em homens como dom Helder e dom Luciano, que, cada qual em sua área de atuação e do seu modo, conduziram a Igreja do Brasil pelo caminho da profecia.
Para crentes e não crentes é urgente recordar alguns elementos da profecia que, de uma forma ou de outra, estes dois profetas nos deixaram:
1º – Qualquer ser humano só pode ser verdadeiramente feliz no dia em que o mundo for um só e justo para todos.
Durante toda a sua vida, dom Helder viveu e lutou por isso. Dom Luciano foi o grande promotor da Pastoral do Menor e com o apoio de dom Paulo Evaristo, cardeal Arns, animou em São Paulo um vicariato especial para os sofredores de rua.
2 – O apelo a nos constituirmos como “minorias abraâmicas”
Dom Helder chamava minorias abraâmicas os grupos pequenos que se reúnem e atuam no mundo como fecundos fermentos de uma humanidade nova.
3 – O compromisso com a Paz e a Não violência
A transformação do mundo começa pelo nosso compromisso com a Paz e através de um método de vida que elimine qualquer violência que existe em nossa forma de ser e de agir.
É preciso que, ao celebrar, neste mês vocacional, a memória destes profetas, nos sintamos convocados/as de novo para este mutirão de esperança e solidariedade tão urgente no mundo. Em 1994, dom Helder mandava esta mensagem ao movimento italiano Mani Tesi (Mãos Estendidas): “Não estamos sós. Por isso, não aceito nunca a resignação nem o desespero. Um dia, a fome será vencida e haverá paz para todos. A última palavra neste mundo não pode ser a morte, mas a vida! Nunca pode ser o ódio, mas o amor! Precisamos fazer com que não haja mais desespero e sim esperança. Nunca mais vençam as mãos enrijecidas contra o outro e sim o que o movimento de vocês valoriza: Mãos estendidas! Unidas na solidariedade e no amor para com todos”.  Em 1988, ao tomar posse na Arquidiocese de Mariana (MG), dom Luciano afirmava: “Não vim para ser servido, mas para servir. Jesus serviu a vida inteira e eu venho para servir, em nome de Jesus, e com as suas predileções, a criança, o pobre, o doente, o abandonado, o aflito, para que tenham vida em nome de Jesus. ‘Como Maria’ – Ela é modelo deste serviço, modelo de uma fé inabalável, de uma confiança que modelou toda a nossa confiança sob a ação do Espírito”.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife – PE

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Encontro Vocacional - dias 13 e 14 de agosto!

Dinâmica realizada pelo Seminarista Matheus Siqueira - 1º ano de Filosofia

Nosso Bispo diocesano Dom Celso Antoônio Marchiori falando com os vocacionados.

Vocacionados, Seminaristas, Bispo e Padre.

Padre Valdecir (Animador Vocacional da Diocese de Apucarana) em dinâmica.

Seminarista Gabriel Gobbi - Seminário Menor - dando seu testemunho.

Adoração ao Santíssimo Sacramento.

Santa Missa de encerramento


Padres( Pe. Valdecir e Pe. Marcelo Miquelim - reitor do Seminário Menor), Seminaristas (Seminário Menor e alguns da Filosofia) e Vocacionados.



Estas são algumas fotos do Encontro Vocacional que foi realizado no Seminário Menor do dia 13 ao dia 14 de agosto. Contamos com a presença de mais de 30 jovens. Rezemos pela vocação de todos esses jovens para que Jesus possa fortalecê-los cada dia mais nessa missão maravilhosa que Ele confiou!
Unidos n'Aquele que nos chama!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vocação Religiosa

Estamos para terminar a Semana reservada para as Vocações Religiosas. Rezemos para que Deus possa suscitar nos corações de muitos jovens essa linda vocação e que o espírito Missionário arda em todos nós e principalmente naqueles que doam suas vidas, consagrando-as à Cristo Jesus!

sábado, 20 de agosto de 2011

Mensagem de Bento XVI para a Jornada Mundial da Juventude 2011




                                            "Enraizados e edificados em Cristo firmes na fé"                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        .                                                                                                                  (Col 2,7)


Queridos amigos,

penso com frequência na
 Jornada Mundial da Juventude de Sidney, em 2008. Ali, vivemos uma grande festa da fé, na qual o Espírito de Deus agiu com força, criando uma intensa comunhão entre os participantes, vindos de todas as partes do mundo. Aquele encontro, como os precedentes, produziu frutos abundantes na vida de muitos jovens e de toda a Igreja. Nosso olhar dirige-se agora para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em Madri, no mês de agosto de 2011. Já em 1989, alguns meses antes da histórica queda do Muro de Berlim, aperegrinação dos jovens fez uma parada na Espanha, em Santiago de Compostela. Agora, no momento em que a Europa tem que voltar a encontrar suas raízes cristãs, fixamos nosso encontro em Madri, com o lema: "Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé" (cf. Col 2, 7). Convido-vos a este evento tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. Além disso, gostaria que todos os jovens, tanto os que compartilham nossa fé quanto os que hesitam, duvidam ou não creem, pudessem viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo, de seu amor por cada um de nós.


1. Nas fontes de vossas maiores aspirações

Em cada época, também em nossos dias, numerosos jovens sentem o profundo desejo de que as relações interpessoais sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração de construir relações autênticas de amizade, de conhecer o verdadeiro amor, de fundar uma família unida, de adquirir uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz.
 Ao recordar minha juventude, vejo que, na verdade, a estabilidade e a segurança não são as questões que mais ocupam a mente dos jovens. Sim, a questão do lugar de trabalho, e com ela a de ter o futuro assegurado, é um problema grande e premente, mas ao mesmo tempo a juventude segue sendo a idade na qual se busca uma vida maior. Ao pensar em meus anos de então, simplesmente, não queríamos perder-nos na mediocridade da vida aburguesada. Queríamos o que era grande, novo. Queríamos encontrar a vida mesma em sua imensidão e beleza. Certamente, isso dependia também de nossa situação. Durante a ditadura nacional-socialista e a guerra, estivemos, por assim dizer, "encerrados" pelo poder dominante. Por isso, queríamos ir para fora, para entrar na abundância das possibilidades do ser homem. Mas creio que, em certo sentido, este impulso de ir mais além do habitual está em cada geração. Desejar algo mais que a cotidianidade regular de um emprego seguro e sentir o desejo do que é realmente grande faz parte do ser jovem. Trata-se somente de um sonho vazio que desaparece quando uma pessoa se torna adulta? Não, o homem, na verdade, está criado para o que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: nosso coração está inquieto, até que não descanse em Ti. O desejo da vida maior é um sinal de que Ele nos criou, de que levamos sua "marca". Deus é vida, e cada criatura tem a vida; de um modo único e especial, a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira ao amor, à alegria e à paz. Então, compreendemos queé um contrassenso pretender eliminar a Deus para que o homem viva. Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, privar-se da plenitude e da alegria: "sem o Criador, a criatura se dilui" (
Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Gaudium et Spes, 36). A cultura atual, em algumas partes do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir a Deus, ou a considerar a fé como um ato privado, sem nenhuma relevância na vida social. Embora o conjunto dos valores, que são o fundamento da sociedade, provenha do Evangelho – como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família -, constata-se uma espécie de "eclipse de Deus", uma certa amnésia, mais ainda, uma verdadeira rejeição do cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder aquilo que mais profundamente nos caracteriza.

Por esse motivo,
 queridos amigos, convido-vos a intensificar vosso caminho de fé em Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Vós sois o futuro da sociedade e da Igreja. Como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Colossos, é vital ter raízes e bases sólidas. Isso é verdade, especialmente hoje, quando muitos não têm pontos de referência estáveis para construir sua vida, sentindo-se assim profundamente inseguros. O relativismo que se difundiu, e para o qual tudo dá no mesmo e não existe nenhuma verdade, nem um ponto de referência absoluto, não gera verdadeira liberdade, mas instabilidade, desajuste e um conformismo com as modas do momento. Vós, jovens, tendes o direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer vossas opções e construir vossa vida, do mesmo modo que uma planta necessita de um apoio sólido até que cresçam suas raízes, para se converter em uma árvore robusta, capaz de produzir fruto.


2. Enraizados e edificados em Cristo

Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de deter-me em três termos que São Paulo utiliza em: "Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé" (cf. Col 2, 7). Aqui, podemos distinguir três imagens: "enraizado" evoca a árvore e as raízes que a alimentam; "edificado" refere-se à construção; "firme" alude ao crescimento da força física ou moral. Trata-se de imagens muito eloquentes. Antes de comentá-las, é preciso assinalar que no texto original as três expressões, desde o ponto de vista gramatical, estão no passivo: quer dizer, que
 é Cristo mesmo quem toma a iniciativa de enraizar, edificar e tornar firmes os crentes.

A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo por meio de raízes, que lhe dão estabilidade e alimento. Sem as raízes, seria levada pelo vento, e morreria. Quais são nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura de nosso país são um componente muito importante de nossa identidade. A Bíblia mostra-nos outro mais. O profeta Jeremias escreve: "Bendito quem confia no Senhor e coloca no Senhor sua confiança. Será uma árvore planta junto á água, que junto às correntes lança suas raízes. Quando chega a estiagem, não a sentirá, sua folha estará verde; no ano da seca, não se inquieta, não deixa de dar fruto" (Jer 17, 7-8). Enraizar, para o profeta, significa voltar a colocar sua confiança em Deus. D'Ele vem nossa vida. Sem Ele, não poderíamos viver de verdade. "Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho" (1 Jo 5, 11). Jesus mesmo apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso,
 a fé cristã não é somente crer na verdade, mas, sobretudo, é uma relação pessoal com Jesus Cristo. O encontro com o Filho de Deus proporciona um dinamismo novo a toda a existência. Quando começamos a ter uma relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos nossa identidade e, com sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. Existe um momento na juventude em que cada um se pergunta: qual sentido tem minha vida, que finalidade, que rumo devo lhe dar? É uma fase fundamental que pode perturbar a mente, às vezes durante muito tempo. Pensa-se em qual será nosso trabalho, as relações sociais que devem se estabelecer, que afetos devem se desenvolver... Neste contexto, volto a pensar em minha juventude. De certo modo, logo percebi que o Senhor me queria sacerdote. Mas, mais adiante, depois da guerra, quando no seminário e na universidade me dirigia até essa meta, tive que reconquistar essa certeza. Tive que me perguntar: é esse, de verdade, meu caminho? É, de verdade, a vontade do Senhor para mim? Serei capaz de permanecer-lhe fiel e estar totalmente à disposição d'Ele, a Seu serviço? Uma decisão assim também causa sofrimento. Não pode ser de outra maneira. Mas, depois, tive a verdade: está certo! Sim, o Senhor me quer, por isso me dará também a força; Escutando-lhe, estando com Ele, chego a ser eu mesmo. Não conta a realização de meus próprios desejos, mas sim Sua vontade. Assim, a vida torna-se autêntica.

Como as raízes da árvore a mantém plantada firmemente na terra, assim os alicerces dão à casa uma estabilidade perdurável.
 Mediante a fé, estamos enraizados em Cristo (cf. Col 2, 7), assim como uma casa está construída sobre os alicerces. Na história sagrada, temos numerosos exemplos de santos que edificaram sua vida sobre a Palavra de Deus. O primeiro: Abraão. Nosso pai na fé obedeceu a Deus, que lhe pedia que deixasse a casa paterna para encaminhar-se a um país desconhecido. "Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus" (Tg 2, 23). Estar enraizados em Cristo significa responder concretamente ao chamado de Deus, confiando-se a Ele e colocando em prática Sua Palavra. Jesus mesmo repreende a seus discípulos: "Por que me chamais 'Senhor, Senhor!' e não fazeis o que vos digo?" (Lc 6, 46). E recorrendo à imagem da construção da casa, complementa: "Todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as pratica [...] é semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela estava bem construída" (Lc 6, 47-48).

Queridos amigos, construí vossa casa sobre a rocha, como o homem que "cavou bem fundo". Tentai também vós acolher a cada dia a Palavra de Cristo. Escutai-o como ao verdadeiro Amigo com quem compartilhar o caminho de vossa vida. Com Ele ao vosso lado, sereis capazes de afrontar com valentia e esperança as dificuldades, os problemas, também as desilusões e os fracassos. Continuamente apresentar-vos-ão propostas mais fáceis, mas vós mesmos percebereis que se revelam como enganosas, não dão serenidade nem alegria. Somente a Palavra de Deus mostra-nos o caminho autêntico, somente a fé que nos foi transmitida é a luz que ilumina o caminho. Acolhei com gratidão este dom espiritual que haveis recebido de vossas famílias e esforçai-vos para responder com responsabilidade ao chamado de Deus, convertendo-vos em adultos na fé. Não creiais nos que dizem que não necessitais dos outros para construir vossa vida. Apoiai-vos, ao contrário, na fé de vossos entes queridos, na fé da Igreja, e agradecei ao Senhor por tê-la recebido e tê-la feito vossa.


3. Firmes na fé

Estai "enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé" (cf. Col 2, 7). A carta, da qual foi tirado esse convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade concreta dos cristãos da cidade de Colossos. Aquela comunidade, de fato, estava ameaçada pela influência de certas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. Nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o dos colossenses de então. Com efeito,
 há uma forte corrente de pensamento laicista que deseja afastar Deus da vida das pessoas e da sociedade, lançando as bases e tentando criar um "paraíso" sem Ele. Mas a existência ensina que o mundo sem Deus converte-se em um "inferno", onde prevalece o egoísmo, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e os povos, a falta de amor, alegria e esperança. Ao contrário, quando as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, Lhe adoram em verdade e escutam Sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, onde cada um é respeitado em sua dignidade e cresce a comunhão, com os frutos que isso implica. Há cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que lhes afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem deixar-se seduzir por elas, simplesmente deixaram que se esfriasse a sua fé, com as inevitáveis consequências negativas no plano moral.

O apóstolo Paulo recorda aos irmãos, contagiados pelas ideias contrárias ao Evangelho, o poder de Cristo morto e ressuscitado. Esse mistério é o fundamento de nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, considerando-o "loucura" (1 Co 1, 23), mostram seus limites antes as grandes perguntas presentes no coração do homem. Por isso, também eu, como Sucessor do apóstolo Pedro, desejo confirmar-vos na fé (cf. Lc 22, 32), Cremos firmemente que Jesus Cristo se entregou na Cruz para oferecer-nos Seu amor; em sua paixão, suportou nossos sofrimentos, carregou nossos pecados, alcançou-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna. Deste modo, fomos libertados do que mais paralisa nossa vida: a escravidão do pecado, e podemos amar a todos, inclusive aos inimigos, e compartilhar este amor com os irmãos mais pobres e em dificuldade.

Queridos amigos,
 a cruz geralmente provoca medo, porque parece ser a negação da vida. Na verdade, é o contrário. É o "sim" de Deus ao homem, a expressão máxima de seu amor e a fonte de onde emana a vida eterna. De fato, do coração de Jesus aberto na cruz brotou a vida divina, sempre disponível para quem aceita olhar ao Crucificado. Por isso, quero convidar-vos a acolher a cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Sem Cristo, morto e ressuscitado, não há salvação. Somente Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino da justiça, paz e amor, ao que todos aspiramos.


4. Crer em Jesus Cristo sem vê-Lo

No Evangelho, é-nos descrita a experiência de fé do apóstolo Tomé quando acolhe o mistério da cruz e ressurreição de Cristo. Tomé, um dos doze apóstolos, seguiu a Jesus, foi testemunha direta de suas curas e milagres, escutou suas palavras, viveu o espanto ante sua morte. Na tarde da Páscoa, o Senhor aparece aos discípulos, mas Tomé não está presente, e quando lhe contam que Jesus está vivo e apareceu a eles, diz: "Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei" (Jo 20, 25).

Também nós gostaríamos de poder ver a Jesus, poder falar com Ele, sentir mais intensamente ainda sua presença. Muitos hoje acham difícil ter acesso a Jesus. Muitas das imagens que circulam de Jesus, e que se fazem passar por científicas, lhe tiram sua grandeza e a singularidade de sua pessoa. Por isso, ao longo de meus anos de estudo e meditação, fui amadurecendo a ideia de transmitir em um livro algo de meu encontro pessoal com Jesus, para ajudar de alguma forma a ver, escutar e tocar ao Senhor, em quem Deus saiu ao nosso encontro para se deixar conhecer. De fato, Jesus mesmo, aparecendo novamente aos discípulos depois de oito dias, diz a Tomé: "Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé" (Jo 20, 27). Também para nós é possível ter um contato sensível com Jesus, colocar, por assim dizer, a mão nos sinais de Sua Paixão, os sinais de seu amor. Nos Sacramentos, Ele vem até nós de uma forma particular, entrega-se a nós. Queridos jovens, aprendei a "ver", a "encontrar" a Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até entregar-se como alimento para nosso caminho; no Sacramento da Penitência, onde o Senhor manifesta sua misericórdia oferecendo-nos sempre seu perdão. Reconhecei e servi a Jesus também nos pobres e enfermos, nos irmãos que estão em dificuldade e necessitam de ajuda.

Iniciai e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-O mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; falai com Ele na oração, confiai n'Ele. Nunca vos trairá. "A fé é, antes de tudo, uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou" (
Catecismo da Igreja Católica, 150). Assim, podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não se funda unicamente em um sentimento religioso ou em uma vaga recordação do catecismo de vossa infância. Podereis conhecer a Deus e viver autenticamente d'Ele, como o apóstolo Tomé, quanto professou abertamente sua fé em Jesus: "Meu Senhor e meu Deus".


5. Sustentados pela fé da Igreja, para ser testemunhas

Naquele momento, Jesus exclama: "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!" (Jo 20, 29). Pensava no caminho da Igreja, fundada sobre a fé das testemunhas oculares: os Apóstolos. Compreendemos agora que
 nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está vinculada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas sim, mediante o Batismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que assegura nossa fé pessoal. O Credo que proclamamos a cada domingo na Eucaristia protege-nos precisamente do perigo de crer em um Deus que não é o que Jesus nos revelou: "Cada crente é, assim, um elo na grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser amparado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para amparar os outros na fé" (Catecismo da Igreja Católica, 166). Agradeçamos sempre ao Senhor pelo dom da Igreja; ela nos faz progredir com segurança na fé, que nos dá a verdadeira vida (cf. Jo 20, 31).

Na história da Igreja, os santos e mártires tiraram da cruz gloriosa a força para serem fiéis a Deus até a entrega de si mesmos; na fé, encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar toda a adversidade. De fato, como diz o apóstolo João: "Quem é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (1 Jo 5, 5).
 A vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se expressa na caridade. Foram artífices da paz, promotores da justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se em diferentes âmbitos da vida social, com competência e profissionalismo, contribuindo eficazmente para o bem de todos. A caridade que brota da fé lhes levou a dar um testemunho muito concreto, com a palavra e as obras. Cristo não é um bem somente para nós mesmos, mas é o bem mais precioso que temos para compartilhar com os demais. Na era da globalização, sejais testemunhas da esperança cristã no mundo todo: são muitos os que desejam receber esta esperança. Ante o sepulcro do amigo lázaro, morto há quatro dias, Jesus, antes de voltar a chamá-lo a vida, diz a sua irmã Marta: "Se credes, vereis a glória de Deus" (Jo 11, 40). Também, vós, se credes, se souberdes viver e dar, a cada dia, testemunho de vossa fé, sereis um instrumento que ajudará a outros jovens como vós a encontrar o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo.


6. Rumo à Jornada Mundial de Madri

Queridos amigos, vos reitero o convite a participar da Jornada Mundial da Juventude em Madri. Com profunda alegria, espero a cada um pessoalmente, Cristo quer assegurar-vos na fé por meio da Igreja.
 A escolha de crer em Deus e segui-Lo não é fácil. Vê-se obstaculizada por nossas infidelidades pessoais e por muitas vozes que nos sugerem vias mais fáceis. Não vos desanimeis, buscai o apoio da comunidade cristã, o apoio da Igreja. Ao longo deste ano, preparai-vos intensamente para o encontro de Madri com vossos bispos, sacerdotes e responsáveis da pastoral juvenil nas dioceses, nas comunidades paroquiais, nas associações e movimentos. A qualidade de nosso encontro dependerá, sobretudo, da preparação espiritual, da oração, da escuta em comum da Palavra de Deus e do apoio recíproco.

Queridos jovens, a Igreja conta convosco. Necessita de vossa fé viva, vossa caridade criativa e o dinamismo de vossa esperança. Vossa presença renova a Igreja, rejuvenesce-a e lhe dá um novo impulso. Por isso, as
Jornadas Mundiais da Juventude são uma graça não somente para vós, mas para todo o Povo de Deus. A Igreja na Espanha está preparando-se intensamente para acolher-vos e viver a experiência gozosa da fé. Agradeço às dioceses, paróquias, santuários, comunidades religiosas, associações e movimentos eclesiais que estão trabalhando com generosidade na preparação deste evento. O Senhor não deixará de abençoá-los. Que a Virgem Maria acompanhe este caminho de preparação. Ela, no anúncio do Anjo, acolheu com fé a Palavra de Deus; com fé consentiu que a obra de Deus se cumprisse nele. Pronunciando seu "fiat", recebeu o dom de uma caridade imensa, que a impulsionou a se entregar inteiramente a Deus. Que Ela interceda por todos vós, para que na próxima Jornada Mundial possais crescer na fé e no amor. Asseguro-vos minha recordação paterna na oração e vos bendigo de coração.

Dado no Vaticano, aos 6 de agosto de 2010, Festa da Transfiguração do Senhor.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

FALAR DE NOSSA FÉ, PEDE CARDEAL AOS JOVENS

Evangelizar significa mostrar Cristo com nossas palavras e nossos atos, diz D. Odilo


Por Alexandre Ribeiro
MADRI, sexta-feira, 19 de agosto de 2011 (ZENIT.org) – O cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, pediu que os jovens falem sem timidez de sua fé, dando testemunho de Cristo por meio das palavras e atos.
O arcebispo ministrou na manhã desta sexta-feira, na Paróquia San Sebastian, em Madri, uma catequese em língua portuguesa, no contexto da Jornada Mundial da Juventude.
Dom Odilo iniciou dizendo que o mundo de hoje, “incluindo os países de antiga tradição cristã, tornou-se novamente ‘terra de missão’ e está necessitado urgentemente de uma ‘nova evangelização’”.
“Vivemos numa mudança de época na história da humanidade e uma nova cultura está sendo formada. Todos nós, de alguma forma, somos agentes dessa nova cultura e, também, sofremos os seus impactos.”
Entre as características deste tempo, Dom Odilo citou a autonomia do mundo, do homem e suas atividades, em relação a Deus e à religião; o subjetivismo, o individualismo e a privatização dos valores coletivos; a pretensão de que a religião e os valores morais sejam da esfera privada e em nada devam influenciar a esfera pública da convivência.
“Que fazer, diante dessa situação? Vamos aceitar, resignados e impotentes, que é assim mesmo e nada pode ser mudado? A Igreja tem a convicção de que a verdade precisa continuar a ser buscada e afirmada”, afirmou o arcebispo.
Ele assinalou que os jovens “são chamados a ser protagonistas nesta nova época missionária da Igreja”.
“Evangelizar – explicou o cardeal Scherer – significa mostrar Cristo com nossas palavras e nossos atos. Por isso, somos chamados a falar explicitamente e sem medo de nossa fé; sem imposição, mas sem timidez, dando testemunho da ação de Cristo em nossa vida.”
“Nossas palavras devem ir acompanhadas pelo nosso testemunho de vida, nosso comportamento e nossa serenidade, para que nossas ações não desmintam o que dizem nossas palavras.”
“De maneira particular, nossa ação evangelizadora deve ser acompanhada pelo testemunho de retidão e honestidade, pelo respeito e amor por toda pessoa e pela dedicação a todos os que sofrem, os pobres, doentes, excluídos e marginalizados”, afirmou.
Dom Odilo disse que a Igreja quer ajudar e apoiar os jovens na sua preparação para serem testemunhas do Evangelho no mundo, discípulos e missionários de Cristo.
Nesse sentido, ele indicou “um caminho de formação e vida cristã, que deve durar toda a vida e passar a fazer parte de uma fé que vai amadurecendo”.
“Quando a fé não é alimentada, ela se enfraquece, já não consegue resistir às tentações e ao desânimo e corre o risco de morrer dentro de nós”, disse.
O cardeal indicou que os jovens “cuidem de alimentar cada dia sua fé na oração pessoal; se for possível, também comunitária”.
“Aos domingos – prosseguiu –, procurem participar da Missa, junto com outros jovens, ou com a comunidade na qual vivem; a Missa dominical alimenta e faz crescer e amadurecer nossa fé e a vida cristã, levando-a a produzir frutos.”
Indicou que os jovens “procurem ler a Palavra de Deus, sobretudo nos Evangelhos e no Novo Testamento em geral”. Também destacou a importância de “ler e estudar algo sobre a fé, como o Catecismo da igreja Católica”.
“E não deixem de se envolver na prática de boas obras, em favor dos pobres, dos doentes, dos que sofrem, dos outros jovens necessitados de ajuda e de toda causa boa neste mundo”, assinalou.
Dom Odilo recordou que o cristão “é um cidadão deste mundo e deve fazer frutificar sua fé para o bem do mundo; nossa fé tem efeito sobre a história vivida”.
“Devemos nos engajar para que o reino de Deus, anunciado pelo Evangelho, envolva a todos e manifeste seus frutos na convivência entre os homens: na paz, na justiça, no respeito, na dignidade, na solidariedade, na bondade, na beleza, na esperança, na vida plena.”
Ele assinalou ainda a importância dos jovens se deixarem inspirar e encantar pelos “tesouros da vida da Igreja”.
“Muitas vezes, nas escolas e universidades, vocês ouvirão falar apenas das possíveis e lamentáveis falhas dos cristãos e da igreja, ao longo dos séculos: inquisição, queima das bruxas, caso Galileu...”
“Isso tende a incutir uma ideia negativa da Igreja, quando se deixam de lado o muito de bem realizado pela Igreja e pelos cristãos ao longo dos séculos. Sejamos como o homem sábio do Evangelho, instruído nas coisas do reino de Deus: Do ‘baú recheado’ da história e da vida da Igreja, saibamos tirar constantemente ‘coisas novas e velhas’: coisas bonitas, preciosas, edificantes”, disse.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011



"Enraizados e edificados em Cristo, firmes ​​na Fé"        (Col 2, 7).

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Juventude em Madrid. Ah, esses moços!


Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo – SP

Nos dias 16 a 21 de agosto, será realizada em Madrid mais uma Jornada Mundial da Juventude. Promovida pelo Pontifício Conselho para os Leigos e pelas Conferências Episcopais e dioceses dos países escolhidos para sediar a Jornada, ela acontece a cada 2 ou 3 anos. Em 2008, foi em Sidney, na Austrália.
Madrid será tomada por uma grande multidão de jovens oriundos de todo o mundo; ali também chegará o Papa Bento XVI, no dia 18 de agosto. Mais de 16 mil jovens do Brasil já estão de malas prontas para viajar para a Espanha; levam no coração a esperança de que o Papa anuncie, no final do encontro, o Brasil como país sede da próxima Jornada. A Conferência dos Bispos do Brasil manifestou este desejo ao Papa.
Foi João Paulo II que teve a iniciativa das Jornadas Mundiais da Juventude, com o objetivo de estabelecer uma nova interação da Igreja Católica com a juventude; isso tem se mostrado eficaz pois, além dos jovens participantes nesses encontros, muitos outros são envolvidos por iniciativas promovidas nos respectivos países, antes, durante e depois das Jornadas. A mensagem passada em cada Jornada acaba alcançando um número incalculável de jovens.
Nos próximos dias, Madrid será a “capital mundial da juventude”! Vindos de cerca de 170 países, dos mais variados povos, culturas, raças e línguas, os jovens confraternizarão, partilharão experiências e alegrias, contando suas histórias e expressando a riqueza cultural e religiosa de seus povos. No programa, terão celebrações religiosas e reflexões sobre o significado da fé cristã para o convívio social e para a edificação de seu futuro; mas também haverá muita manifestação cultural e oferta de oportunidades para descortinar horizontes novos na vida e para perceber o mundo a partir do horizonte que outros jovens têm.
Será uma verdadeira experiência de globalização a partir de valores compartilhados, onde as diferenças não dividem nem distanciam, mas somam e ajudam a compreender que, no fundo, as buscas mais imperiosas, os desejos mais ardentes e os valores mais genuínos de cada um são os mesmos de outros jovens também, em todo o mundo. Em Madrid, será facilmente perceptível que a humanidade é, de fato, uma única grande família, com laços comuns, na qual todos são chamados a se irmanar, respeitar e conviver em paz, ajudando-se reciprocamente na edificação de um mundo bom para todos.
A ocasião é oportuna para uma reflexão sobre o que é oferecido hoje às novas gerações, em vista do seu futuro; afinal, é sobre elas que os adultos precisam investir, pensando no amanhã da sociedade e da humanidade. Impressiona-me, por vezes, encontrar jovens sem projeto para a vida, que rejeitam a idéia de casar, constituir família, ter filhos... Impressiona-me ainda mais ver tantos jovens entregues ao consumo de drogas que matam, ou envolvidos em organizações à margem da lei e da sociedade, bem conscientes de que sua vida está sempre por um fio! E quantas vidas em flor são queimadas, como “arquivos” incômodos ou inúteis, depois de terem sido usados inescrupulosamente?! A “mortalidade juvenil” é impressionante!
Alguém observou que os recentes tumultos de Londres mostrariam a “frustração nihilista de jovens urbanos” (O Estado de São Paulo, 10.08, A14). Vemos jovens sem perspectivas de futuro, movendo-se na vida em terrenos movediços, sem convicções nem bases para edificar a existência, para os quais o horizonte se fecha por inteiro sobre o instante fugaz de um gozo passageiro! Lembramos ainda de Amy Winehouse?
É culpa dos jovens? Seria muito cômodo apenas criticar os jovens. É preciso indagar sobre aquilo que lhes é oferecido na educação e na cultura que consomem todos os dias. Em quais fontes bebem para matar sua sede? As bases para os jovens edificarem suas vidas não são postas por eles, mas pela geração adulta e pelo ambiente em que vivem. Como os jovens são preparados para assumirem seu lugar na sociedade, no mundo do trabalho e das responsabilidades sociais? Dados do Centro de Atendimento ao Trabalhador (CEAT) mostram que de cada 4 empregos disponíveis, apenas um é efetivamente ocupado: os candidatos que se apresentam não estão preparados para assumir o posto em oferta! E é jovem a maioria dos candidatos! Sem dúvida, é preocupante. Boa parte deles pode estar perdendo o bonde da história.
Olhemos ainda para um outro aspecto da realidade, que interessa aos jovens. Certezas duradouras estão fora de moda! Vivemos tempos de superficialidade, de coisas descartáveis, de modismos passageiros e novidades “vantajosas”, que suplantam a toda hora as convicções. As coisas valem na medida em que são consumíveis, de acordo com o apetite que podem despertar e satisfazer. O consumismo tomou conta também da cultura e dos comportamentos e se aplica ao próprio ser humano; e tende a invadir o campo das certezas morais e da religião. O subjetivismo e o relativismo produziram uma profunda crise de valores e de referenciais para os jovens. A norma é o politicamente correto, mesmo que esteja desprovido de verdade e de valores! “Ah, esses moços, pobres moços!”
Os jovens, por natureza, estão projetados para o futuro e têm o direito de sonhar com um mundo melhor, com perspectivas consistentes. Alimentar a sua esperança é tarefa da geração dos adultos, de toda a sociedade. As Jornadas da Juventude querem ser uma contribuição para isso, apontando para os jovens as bases sólidas do Evangelho de Cristo, para que possam edificar sobre elas seu futuro e se enraizar profundamente nos princípios que o Cristianismo: o respeito profundo pela dignidade de cada pessoa, a colaboração e a partilha, a fraternidade, a justiça e a paz. A Jornada de Madrid será uma amostra disso.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Os discípulos do amanhã



A grande maioria das pessoas que frequenta a Igreja aspira, pretende e se identifica como discípulo de Jesus Cristo. E é muito bom que assim o seja. É muito bom que cada pessoa na Igreja tenha no coração este desejo de querer aprender da vida de Jesus, de ser continuamente instruído em Sua doutrina, de “frequentar” a escola de tão Divino Mestre. Mas Jesus não quer apenas “discípulos”. Jesus não nos quer “eternamente” alunos, como simples aprendizes de um ofício que nunca exercitamos, nunca assumimos e para o qual estamos sempre sendo treinados...
Não. A Igreja está por demais povoada de “discípulos do amanhã”, que sempre que convidados a assumir uma tarefa mais séria, uma atividade mais comprometedora com a Boa Nova, pondo em risco e oferecendo ao desgaste a própria vida pela causa do Reino, recusam-se, alegando não estar ainda “preparados” para tal serviço, não ter ainda “condições” de se doar como o trabalho em questão exige. Preferem continuar “discípulos”, apenas. Preferem continuar tendo “ótimas ideias” e “planos impressionantes”, mas... para os outros executarem! E passam a vida “se preparando”, deliciando-se com os ensinamentos recebidos de outrem, às vezes criticando quem trabalha, contestando isso e aquilo, para, quem sabe, num amanhã que nunca chegará, oferecer ao Senhor os “restos” de suas vidas egoístas e medrosas...
João Paulo II, em sua Exortação Apostólica Catechesi Tradendae nos chamava a atenção para o fato de que uma das missões do Espírito Santo é exatamente a de transformar aquele que é discípulo em testemunha de Jesus Cristo (CT 72). Ou seja, depois de testemunhar Jesus em nós e nos tornar discípulos, o Espírito quer que nós mesmos testemunhemos a Jesus, trabalhando por manifestá-lo a outros que não O conhecem (Jo 15,26-27). E não precisamos nos sentir “despreparados” ou incapacitados. A capacitação para testemunhar a Jesus vem do Espírito, e não de nosso “muito tempo” na escola da fé. Pois esta foi a promessa feita por Jesus a um grupo especial de discípulos: “... Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força e sereis minhas testemunhas (...) até os confins do mundo” (At 1,8). De maneira que todo aquele que, na Igreja, não dá testemunho de sua fé em Cristo, precisa se perguntar discípulo de quem realmente é... e se,  na verdade,  está se deixando habitar e conduzir por Seu Espírito. Porque a consequência de quem busca viver na plenitude do Espírito é dar testemunho de Jesus...
Na Audiência Geral de 24 de maio de 1989, em Roma, o hoje beato João Paulo II  nos ensinava: “A  ação do Espírito Santo é a de dar testemunho! E uma ação interior, tri-imanente, nos corações dos  discípulos, que então se tornam capazes de dar testemunho de Cristo eternamente... Ao testemunhar Cristo, o Paráclito é um assíduo Advogado e Defensor da Obra de Salvação e de todos aqueles que estão engajados nesta Obra”. Seu predecessor – Paulo VI –  na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (n.75), já enfatizava: “”.  Não poucas pessoas são motivadas, atualmente, a ansiar por uma renovada efusão do Espírito Santo em suas vidas. Querem “o poder do alto”, prometido (cf. At 1,5-8). Mas nem sempre se mostram dispostas a estender a visão a respeito dessa força recebida para além do exterior aspecto  glorioso  que a pode acompanhar, e usá-la para aquele propósito primeiro indicado por Jesus Cristo de sermos, por causa dela, suas destemidas testemunhas (cf. At 1,8), capazes de por Ele correr riscos, fazer sacrifícios e suportar afrontas... Falando aos jovens na Jornada Mundial de Sidney, na Austrália (20/07/2008), momentos antes da cerimônia do Crisma, o papa Bento XVI se perguntava (e respondia!): “Que significa receber o ‘selo’ do Espírito Santo?... Significa ficar indelevelmente marcados, significa ser novas criaturas. Para aqueles que receberam este dom, nada mais pode ser como antes. Ser “batizados” no Espírito significa ser incendiados pelo amor de Deus, “beber” do Espírito (cf. 1 Cor 12,13) significa ser refrescado pela beleza do Plano de Deus sobre nós e o mundo, e tornar-se por sua vez uma fonte de frescor para os outros. Ser ‘selados com o Espírito’ significa além disso não ter medo de defender Cristo, deixando que a verdade do Evangelho permeie a nossa maneira de ver, pensar e agir, enquanto trabalhamos para o triunfo da civilização do amor...”
Jesus era ainda um simples menino quando seus pais O encontraram – em meio aos doutores da lei – trabalhando pela causa do Reino, junto ao templo de Jerusalém. Perguntado por que fazia aquilo, naquelas circunstâncias, respondeu: “Acaso não sabíeis que devo me ocupar das coisas de meu Pai?” (Lc 2,41-52). Se é que temos o mesmo Pai a que se refere Jesus, a hora de ocuparmo-nos de Sua obra é hoje, é agora! Aliás, colaborar efetivamente com as obras que buscam promover a glória de Deus e testemunhar a Jesus é a condição para que Ele também um dia dê testemunho a nosso favor diante do Pai que está nos céus (Mt 10,32-33). Amém!


Por Reinaldo Bezerra dos Reis