sábado, 22 de dezembro de 2012

Jesus, humildemente reclinado no presépio

“Natal é vida que nasce. Natal é Cristo que vem. Nós somos o seu presépio e a nossa casa é Belém”.
O refrão deste cântico natalino ressoa aos nossos ouvidos, sinalizando que o Natal se aproxima. E, mais uma vez somos, por um lado pressionados a correr para as compras e, por outro, atraídos por um valor maior, que é motivado pela fé: caminhar ao encontro de Jesus. Realmente, o Natal pode ser visto sob essas duas vertentes. Qual é a que mais nos satisfaz verdadeiramente? Os presentes são passageiros e logo se acabam. Jesus, no entanto, permanece para sempre.
Natal é Jesus e somente com ele, nele e por ele podemos celebrar satisfatoriamente esta festa, que é celebrada no mundo inteiro. Vamos usufruir deste tempo de graça espiritual, que o Senhor nos oferece, e comemorar o dom mais precioso e fundamental de nossa fé: Jesus Cristo, o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria para nos salvar.
Como é importante neste momento o dom da fé! Somente pela fé seremos capazes de celebrar esta festa natalina com espírito cristão, onde nos revestiremos dos valores que estão bem acima do consumismo, que acaba por influenciar-nos drasticamente. Nosso Senhor já nos alertara sobre isso, quando disse: “Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com as preocupações da vida” (Lc 21, 34). Muitos acabam ficando só com esta dimensão da festa de Cristo, e esquecem o essencial que é Jesus, humildemente reclinado no presépio.
Aproveitemos bem este tempo de Natal, para manter nosso “olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Hb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar conosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação” (Porta Fidei, 13).
Ao contemplarmos Jesus, humildemente reclinado no presépio com Maria e José, oremos para que nossa diocese, paróquias, comunidades, diaconias, grupos de vivência e famílias sejam lugares propícios para que muitos possam aproximar-se de Cristo, nele acreditar e dele tornar-se discípulos missionários.
A todos, desejo um Natal abundantemente abençoado!

Dom Celso A. Marchiori
Bispo de Apucarana

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Nossa Senhora de Guadalupe


12/12  Nossa Senhora de Guadalupe
Um sábado de 1531 a princípios de dezembro, um índio chamado Juan Diego, ia muito de madrugada do povo em que residia à cidade do México a assistir a suas aulas de catecismo e para ouvir a Santa Missa. Ao chegar junto à colina chamada Tepeyac amanhecia e escutou uma voz que o chamava por seu nome. 

Ele subiu ao cume e viu uma Senhora de sobre-humana beleza, cujo vestido era brilhante como o sol, a qual com palavras muito amáveis e atentas lhe disse: "Juanito: o menor de meus filhos, eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus, por quem se vive. Desejo vivamente que me construa aqui um templo, para nele mostrar e prodigalizar todo meu amor, compaixão, auxílio e defesa a todos os moradores desta terra e a todos os que me invoquem e em Mim confiem. Vá ao Senhor Bispo e lhe diga que desejo um templo neste plano. Anda e ponha nisso todo seu esforço". 

Retornou a seu povo Juan Diego se encontrou de novo com a Virgem Maria e lhe explicou o ocorrido. A Virgem lhe pediu que ao dia seguinte fora novamente falar com o bispo e lhe repetisse a mensagem. Esta vez o bispo, logo depois de ouvir Juan Diego disse que devia ir e lhe dizer à Senhora que lhe desse alguma sinal que provasse que era a Mãe de Deus e que era sua vontade que lhe construíra um templo. 

De volta, Juan Diego achou Maria e lhe narrou os fatos. A Virgem lhe mandou que voltasse para dia seguinte ao mesmo lugar, pois ali lhe daria o sinal. Ao dia seguinte Juan Diego não pôde voltar para colina, pois seu tio Juan Bernardino estava muito doente. A madrugada de 12 de dezembro Juan Diego partiu a toda pressa para conseguir um sacerdote a seu tio, pois se estava morrendo. Ao chegar ao lugar por onde devia encontrar-se com a Senhora preferiu tomar outro caminho para evitá-la. de repente Maria saiu a seu encontro e lhe perguntou aonde ia. O índio envergonhado lhe explicou o que ocorria. A Virgem disse a Juan Diego que não se preocupasse, que seu tio não morreria e que já estava são. Então o índio lhe pediu o sinal que devia levar a bispo. Maria lhe disse que subisse ao cume da colina onde achou rosas de Castela frescas e colocando-as no poncho, cortou quantas pôde e as levou a bispo.
 
Uma vez diante de Dom Zumárraga Juan Diego desdobrou sua manta, caíram ao chão as rosas e no poncho estava pintada com o que hoje se conhece como a imagem da Virgem de Guadalupe. Vendo isto, o bispo levou a imagem Santa à Igreja Maior e edificou uma ermida no lugar que tinha famoso o índio. 

Pio X a proclamou como "Padroeira de toda a América Latina", Pio XI de todas as "Américas", Pio XII a chamou "Imperatriz das Américas" e João XXIII "A Missionária Celeste do Novo Mundo" e "a Mãe das Américas".

A imagem da Virgem de Guadalupe se venera no México com maior devoção, e os milagres obtidos pelos que rezam à Virgem de Guadalupe são extraordinários.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Imaculada Conceição de Nossa Senhora



No dia 8 de dezembro, a Igreja celebra a solenidade da Imaculada Conceição, professando que a Mãe de Jesus foi concebida sem o pecado original, herança com que todos nascemos. A festa é celebrada no tempo litúrgico do Advento, de preparação para o Natal. Neste tempo, é importante lembrar-se também daquela que foi escolhida por Deus para ser a mãe do Verbo Encarnado; o Filho de Deus vem até nós através de uma mulher.

CHEIA DE GRAÇA - Para ser a mãe de Cristo, Deus escolheu uma mulher santa e pura, cheia de graça. Por isso, como afirma o Concílio Vaticano II, na constituição “Lumen gentium”, Maria, “desde o primeiro instante de sua existência, é enriquecida com uma santidade surpreendente, absolutamente única.” (LG 56) É esse o mistério que celebramos no dia 8 de dezembro: para ser digna Mãe do Verbo, Deus preservou Maria do pecado original e a fez cheia de graça, a fez imaculada desde sua concepção.

REMIDA POR CRISTO - A doutrina da santidade original de Nossa Senhora se firmou inicialmente no Oriente, por volta do século VI ou VII, daí passou para o Ocidente. No século XIII, Duns Scott, teólogo franciscano de inteligência brilhante, defendia que Maria havia sido concebida sem o pecado original, afirmando que ela foi remida por Cristo como todas as pessoas humanas, mas antes de contrair o pecado original, em previsão dos méritos do Redentor que lhe são aplicados também.

DOGMA DE FÉ - Séculos mais tarde, o Papa Pio IX, com a bula “Ineffabilis Deus”, de 8 de dezembro de 1.854, proclamou o dogma da Imaculada Conceição: “Maria foi imune de toda mancha da culpa original desde o primeiro instante de sua concepção, em vista dos méritos de Cristo.” Quatro anos mais tarde, em 1.858, Nossa Senhora confirmava essa verdade. Aparecendo a Bernadete, na cidade francesa de Lurdes, apresentou-se: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

MODELO DE VIDA - A Mãe do Salvador se revela como exemplo de fé, de oração, de escuta da palavra divina, de amor-doação. Nossa devoção deve sempre lembrar a moça que soube dizer sim ao chamado para ser mãe, que se deslocou por caminhos difíceis para servir sua prima Isabel, que na festa de Caná estava servindo e preocupada com a felicidade dos noivos. Maria é a pessoa simples, pobre, que pertencia aos excluídos de sua época. É a mulher firme na condução dos passos de seu Menino, forte ao pé da cruz, exultante na ressurreição de seu Filho.

MÃE DOS CRISTÃOS - Sua existência é uma plena comunhão com o Filho, uma entrega total a Deus. Ela é a mãe imaculada dos cristãos. Como afirma o Papa João Paulo II, Maria é “a primeira e a mais completa realização das promessas divinas. Sua espiritual beleza nos convida à confiança e à esperança. A Virgem toda pura e toda santa nos anima a preparar os caminhos do Senhor e a endireitar seus caminhos.”

CAMINHO PARA BELÉM - A celebração da Imaculada dentro do Advento – tempo de preparação para o Natal de Jesus Cristo – deve nos levar até o presépio de Belém, descobrindo a humildade e a pobreza de nosso Deus e de sua mãe, comprometendo-nos com os pobres e excluídos, os que tiveram o privilégio de receber primeiro o convite para irem adorar o Menino que nasceu.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Tempo do Advento


Com este tempo inicia-se o Ano Litúrgico. A Palavra "advento" significa "chegada",  "vinda". Sua espiritualidade nos chama à esperança, a uma alegre e piedosa expectativa, à conversão, à renovação e ao juízo do Senhor.
O Advento possui quatro domingos e tem como tarefa preparar-nos para receber o Senhor, que se manifesta a nós. Começamos com a expectativa da segunda vinda de Cristo, que se dará na grandeza de sua glória. Depois, mais próximos do Natal, nós nos voltamos para a sua primeira vinda, quando ele assumiu a nossa humanidade ao nascer na gruta de Belém.
A liturgia do período do Advento é um cântico contínuo de esperança. Somos chamados a viver como os primeiros cristãos e jubilosa expectativa da volta do Senhor.

Celebrando o Advento

*Cor do tempo: roxa.
* No Advento, começamos um novo Ano Litúrgico. Iniciamos aos domingos a leitura de um novo evangelista (Mateus, Marcos e Lucas), conforme o ciclo trienal A-B-C.
* Nesse tempo, omite-se o Glória, mas canta-se o Aleluia.
*Usam-se o órgão e os outros instrumentos musicais. O altar é ornado com flores, com aquela moderação que convém ao caráter próprio deste tempo, de modo a não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor. Pelo mesmo motivo, não devemos tirar a sobriedade do espaço litúrgico colocando enfeites natalinos, tão comuns no comércio.
*O 3º Domingo do Advento recebe o nome de “Domingo Gaudete” ou “Domingo da Alegria”. Nele pode-se usar a cor rosa.
*A realização de celebrações penitenciais e a celebração do sacramento da Penitência são de grande valor para a vivência autêntica desse tempo.
*A liturgia do Advento recorda frequentemente a Virgem Maria. Por isso, esse tempo é particularmente propício para desenvolvermos na comunidade uma espiritualidade mariana voltada para a espera do nascimento do Salvador.
*Alguns aspectos da piedade popular (novenas, presépios, coroa do Advento), desde que sejam bem direcionadas por uma espiritualidade ligada ao mistério de nossa salvação, podem ajudar na vivência desse tempo.

Confraternização do SAV

 No dia 02 de Dezembro, os responsáveis do SAV da diocese de Apucarana se reuniram para agradecer ao Bom Deus pelo êxito nas atividades de 2012 realizadas na diocese. Neste encontro houve descontração e animação, além do assessor diocesano, Padre Emerson de Jesus Rodrigues, apresentar o calendário vocacional do ano de 2013. A equipe do SAV, desde já, agradece o empenho de todos que trabalham pelas vocações e deseja um santo e abençoado Natal e um feliz Ano Novo a todos.





Pe Emerson, assessor diocesano, apresentando o novo calendário vocacional.



Ir. Valéria, OSJ e Ir. Salete, ASCJ











quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A crise das vocações



A última vez que fui à Itália, conheci uma freira brasileira, por meio de uma amiga comum. Com pouco mais de 30 anos, morava numa comunidade próxima a Roma. Acompanhada por outra freira, uma siciliana lindíssima de pele branca e cabelos negros, que poderia fazer sucesso no mundo da moda ou no cinema, me ciceroneou pelas catacumbas e depois me levou a um delicioso restaurante no Trastevere. Falamos sobre Deus, Roma e, é claro, a vida. Perguntei como sua família, de alta classe média paulista, recebera a notícia de que queria fazer os votos, no final da adolescência.
– Minha mãe foi contra – disse. Falou que eu não sabia se seria mais feliz tendo um relacionamento, casando. Que era preciso experimentar tudo antes de decidir. Mas minha decisão era sólida.
Quando me despedi das duas, parti com uma sensação maravilhosa. As freiras eram pessoas em paz com a vida e com sua opção. E com um alto nível de espiritualidade.
Atualmente, há uma inversão de valores em relação ao passado. Há algumas décadas a opção pela vida religiosa era vista com alegria e orgulho. Hoje, em grande parte das famílias, é rejeitada. Se um adolescente quer ser padre, suspeitam que há algo de errado com ele. Se uma garota decide ser freira, como no caso da minha amiga, muitas vezes a mãe tenta dissuadir. Não é à toa que a Igreja Católica vive uma crise de vocações sem precedentes em sua história. Só foi minimizada nos seminários, que formam sacerdotes, devido à exposição de alguns padres na mídia, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo. Os padres pop estimulam vocações ao mostrar o sacerdócio como uma opção positiva e fascinante. O seminário, entre os mais pobres, também é uma maneira de garantir os estudos. A crise é mais intensa nos mosteiros e conventos. Recentemente, estive no hospital Santa Catarina, em São Paulo, um centro de medicina de alto nível. Foi fundado e é gerido pelas irmãs da Ordem, que vivem num convento ligado ao hospital. Conversando com a superiora, soube que, no passado, havia 60, 70 freiras. Hoje são apenas 18, muitas delas em idade avançada.
Quando se toca no tema, já se pensa no celibato. Não quero debater aqui se a Igreja Católica ainda deve exigir a castidade. Sou, sim, contra padres, monges e freiras que praticam sexo. Na vida, a gente tem de cumprir aquilo a que se compromete. Sempre ouço alguém dizer, quando se toca no celibato sacerdotal.
– Mas uma vida sem sexo?
Às vezes acho que damos importância demais ao sexo. Socialmente, conquistar, “pegar”, é sinônimo de uma vitória. Não condeno ninguém por pensar assim. O sexo se tornou fácil, descompromissado, um parque de diversões. Fala-se mais do que se faz. Os bem casados, depois de uns anos, diminuem o número de relações, em muitos casos deixam de tê-las. O que une os casais é o vínculo afetivo e espiritual. Acredito que se possa viver sem sexo e ser feliz. Não acho que o celibato seja a causa principal da rejeição à vida religiosa.
Os missionários protestantes podem casar. Mas há menos do que as igrejas desejariam. Tenho um primo que há anos deixou um emprego burocrático e foi com a família ser missionário na África. A reação da família foi espetacular. Minhas orelhas ardiam de tanto ouvir sobre sua “ loucura”. Uma prima falou até que ele deveria ser internado. Já estive em contato com missionários evangélicos nas ruas de São Paulo. Nas sextas-feiras e nos sábados, enquanto seus amigos vão para as baladas, dedicam-se a distribuir sanduíches e a convencer drogados a tentar uma reabilitação. Encaram traficantes, correm riscos. É óbvio que, mesmo sem voto de castidade, essas pessoas abdicam de oportunidades de namoro e relacionamento.
Talvez seja inconcebível, para muita gente, viver sem comprar sapatos novos, sem carro, sem trocar a decoração da casa. O que está no cerne da crise de vocações é uma visão consumista da vida, em que o prazer deve ser imediato. Não só os grandes religiosos, como também os filósofos, já demonstraram que o prazer é fruto de uma opção mais profunda. O existencialista Jean-Paul Sartre, que também não anda em moda ultimamente, dizia que a vida é feita de escolhas. E que as escolhas são feitas em função de um projeto pessoal. Ser religioso não é uma opção para todos, é óbvio. Mas como encarar a vida religiosa quase como um desvio de personalidade se, afinal, somos cristãos? Ainda acredito que escolher uma causa é uma bela forma de viver. 
Walcyr Carrasco
 Jornalista, autor de livros, peças teatrais e novelas de televisão


terça-feira, 20 de novembro de 2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Mensagem do Papa para a XXVIII Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro, julho 2013)


«Ide e fazei discípulos entre as nações!» (cf. Mt 28,19)

Queridos jovens,Desejo fazer chegar a todos vós minha saudação cheia de alegria e afeto. Tenho a certeza que muitos de vós regressastes a casa da Jornada Mundial da Juventude em Madrid mais «enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé» (cf. Col 2,7). Este ano, inspirados pelo tema: «Alegrai-vos sempre no Senhor» (Fil 4,4) celebramos a alegria de ser cristãos nas várias Dioceses. E agora estamo-nos preparando para a próxima Jornada Mundial, que será celebrada no Rio de Janeiro, Brasil, em julho de 2013. Desejo, em primeiro lugar, renovar a vós o convite para participardes nesse importante evento. A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas de que o mundo precisa.Convido a vos preparardes para a Jornada Mundial do Rio de Janeiro, meditando desde já sobre o tema do encontro: «Ide e fazei discípulos entre as nações» (cf. Mt 28,19). Trata-se da grande exortação missionária que Cristo deixou para toda a Igreja e que permanece atual ainda hoje, dois mil anos depois. Agora este mandato deve ressoar fortemente em vosso coração. O ano de preparação para o encontro do Rio coincide com o Ano da fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos à «nova evangelização para a transmissão da fé cristã». Por isso me alegro que também vós, queridos jovens, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros.
1. Uma chamada urgenteA história mostra-nos muitos jovens que, através do dom generoso de si mesmos, contribuíram grandemente para o Reino de Deus e para o desenvolvimento deste mundo, anunciando o Evangelho. Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia. Penso, por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século XVI, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de vinte anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo. Mas penso também em tantos de vós que se dedicam generosamente à missão da Igreja: disto mesmo tive um testemunho surpreendente na Jornada Mundial de Madri, em particular na reunião com os voluntários.Hoje, não poucos jovens duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho. De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam: E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso, deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação e de vida nova.A Igreja, para continuar esta missão de evangelização, conta também convosco. Queridos jovens, vós sois os primeiros missionários no meio dos jovens da vossa idade! No final do Concílio Ecumênico Vaticano II, cujo cinquentenário celebramos neste ano, o Servo de Deus Paulo VI entregou aos jovens e às jovens do mundo inteiro uma Mensagem que começava com estas palavras: «É a vós, rapazes e moças de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher o facho das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas transformações da sua história, sois vós quem, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: salvar-vos-eis ou perecereis com ela». E concluía com um apelo: «Construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados!» (Mensagem aos jovens, 8 de dezembro de 1965).Queridos amigos, este convite é extremamente atual. Estamos passando por um período histórico muito particular: o progresso técnico nos deu oportunidades inéditas de interação entre os homens e entre os povos, mas a globalização destas relações só será positiva e fará crescer o mundo em humanidade se estiver fundada não sobre o materialismo mas sobre o amor, a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas. Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e se torna incapaz de amar seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós. Qualquer pessoa que entenda essa necessidade, não poderá deixar de exclamar com São Paulo: «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho» (1 Cor 9,16).
2. Tornai-vos discípulos de CristoEsta chamada missionária vos é dirigida também por outro motivo: é necessário para o nosso caminho de fé pessoal. O Beato João Paulo II escrevia: «É dando a fé que ela se fortalece» (Encíclica Redemptoris missio, 2). Ao anunciar o Evangelho, vós mesmos cresceis em um enraizamento cada vez mais profundo em Cristo, vos tornais cristãos maduros. O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza. E o anúncio do Evangelho não pode ser senão consequência da alegria de ter encontrado Cristo e ter descoberto n’Ele a rocha sobre a qual construir a própria existência. Comprometendo-vos no serviço aos demais e no anúncio do Evangelho, a vossa vida, muitas vezes fragmentada entre tantas atividades diversas, encontrará no Senhor a sua unidade; construir-vos-eis também a vós mesmos; crescereis e amadurecereis em humanidade.Mas, que significa ser missionário? Significa acima de tudo ser discípulo de Cristo e ouvir sem cessar o convite a segui-Lo, o convite a fixar o olhar n’Ele: «Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29). O discípulo, de fato, é uma pessoa que se põe à escuta da Palavra de Jesus (cf. Lc 10,39), a quem reconhece como o Mestre que nos amou até o dom de sua vida. Trata-se, portanto, de cada um de vós deixar-se plasmar diariamente pela Palavra de Deus: ela vos transformará em amigos do Senhor Jesus, capazes de fazer outros jovens entrar nesta mesma amizade com Ele.Aconselho-vos a guardar na memória os dons recebidos de Deus, para poder transmiti-los ao vosso redor. Aprendei a reler a vossa história pessoal, tomai consciência também do maravilhoso legado recebido das gerações que vos precederam: tantos cristãos nos transmitiram a fé com coragem, enfrentando obstáculos e incompreensões. Não o esqueçamos jamais! Fazemos parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que nos transmitiram a verdade da fé e contam conosco para que outros a recebam. Ser missionário pressupõe o conhecimento deste patrimônio recebido que é a fé da Igreja: é necessário conhecer aquilo em que se crê, para podê-lo anunciar. Como escrevi na introdução do YouCat, o Catecismo para jovens que vos entreguei no Encontro Mundial de Madri, «tendes de conhecer a vossa fé como um especialista em informática domina o sistema operacional de um computador. Tendes de compreendê-la como um bom músico entende uma partitura. Sim, tendes de estar enraizados na fé ainda mais profundamente que a geração dos vossos pais, para enfrentar os desafios e as tentações deste tempo com força e determinação» (Prefácio).
3. Ide!Jesus enviou os seus discípulos em missão com este mandato: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo» (Mc 16,15-16). Evangelizar significa levar aos outros a Boa Nova da salvação, e esta Boa Nova é uma pessoa: Jesus Cristo. Quando O encontro, quando descubro até que ponto sou amado por Deus e salvo por Ele, nasce em mim não apenas o desejo, mas a necessidade de fazê-lo conhecido pelos demais. No início do Evangelho de João, vemos como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus: quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele. Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas para Ele.Pelo Batismo, que nos gera para a vida nova, o Espírito Santo vem habitar em nós e inflama a nossa mente e o nosso coração: é Ele que nos guia para conhecer a Deus e entrar em uma amizade sempre mais profunda com Cristo. É o Espírito que nos impulsiona a fazer o bem, servindo os outros com o dom de nós mesmos. Depois, através do sacramento da Confirmação, somos fortalecidos pelos seus dons, para testemunhar de modo sempre mais maduro o Evangelho. Assim, o Espírito de amor é a alma da missão: Ele nos impele a sair de nós mesmos para «ir» e evangelizar. Queridos jovens, deixai-vos conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de «sair» de vós mesmos para «ir» ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.
4. Alcançai todos os povosCristo ressuscitado enviou os seus discípulos para dar testemunho de sua presença salvífica a todos os povos, porque Deus, no seu amor superabundante, quer que todos sejam salvos e ninguém se perca. Com o sacrifício de amor na Cruz, Jesus abriu o caminho para que todo homem e toda mulher possa conhecer a Deus e entrar em comunhão de amor com Ele. E constituiu uma comunidade de discípulos para levar o anúncio salvífico do Evangelho até os confins da terra, a fim de alcançar os homens e as mulheres de todos os lugares e de todos os tempos. Façamos nosso esse desejo de Deus!Queridos amigos, estendei o olhar e vede ao vosso redor: tantos jovens perderam o sentido da sua existência. Ide! Cristo precisa de também de vós. Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos «afastados». Alguns encontram-se geograficamente distantes, enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido, vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade verdadeira, dará seus frutos. Os «povos», aos quais somos enviados, não são apenas os outros Países do mundo, mas também os diversos âmbitos de vida: as famílias, os bairros, os ambientes de estudo ou de trabalho, os grupos de amigos e os locais de lazer. O jubiloso anúncio do Evangelho se destina a todos os âmbitos da nossa vida, sem exceção.Gostaria de destacar dois campos, nos quais deve fazer-se ainda mais solícito o vosso empenho missionário. O primeiro é o das comunicações sociais, em particular o mundo da internet. Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos jovens, «senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! [...] A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital”» (Mensagem para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2009). Aprendei, portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos na rede.O segundo campo é o da mobilidade. Hoje são sempre mais numerosos os jovens que viajam, seja por motivos de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas penso também em todos os movimentos migratórios, que levam milhões de pessoas, frequentemente jovens, a se transferir e mudar de Região ou País, por razões econômicas ou sociais. Também estes fenômenos podem se tornar ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho. Queridos jovens, não tenhais medo de testemunhar a vossa fé também nesses contextos: para aqueles com quem vos deparareis, é um dom precioso a comunicação da alegria do encontro com Cristo. 
5. Fazei discípulos!Penso que já várias vezes experimentastes a dificuldade de envolver os jovens da vossa idade na experiência da fé. Frequentemente tereis constatado que em muitos deles, especialmente em certas fases do caminho da vida, existe o desejo de conhecer a Cristo e viver os valores do Evangelho, mas tal desejo é acompanhado pela sensação de ser inadequados e incapazes. Que fazer? Em primeiro lugar, a vossa solicitude e a simplicidade do vosso testemunho serão um canal através do qual Deus poderá tocar seu coração. O anúncio de Cristo não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós; por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o bom Samaritano, devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e ajudar, para conduzir, quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. Lc 10,29-37). Queridos amigos, nunca esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. Aos seus apóstolos, Jesus ordena: «Fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei» (Mt 28,19-20). Os meios que temos para «fazer discípulos» são principalmente o Batismo e a catequese. Isto significa que devemos conduzir as pessoas que estamos evangelizando ao encontro com Cristo vivo, particularmente na sua Palavra e nos Sacramentos: assim poderão crer n’Ele, conhecerão a Deus e viverão da sua graça. Gostaria que cada um de vós se perguntasse: Alguma vez tive a coragem de propor o Batismo a jovens que ainda não o receberam? Convidei alguém a seguir um caminho de descoberta da fé cristã? Queridos amigos, não tenhais medo de propor aos jovens da vossa idade o encontro com Cristo. Invocai o Espírito Santo: Ele vos guiará para entrardes sempre mais no conhecimento e no amor de Cristo, e vos tornará criativos na transmissão do Evangelho. 
6. Firmes na féDiante das dificuldades na missão de evangelizar, às vezes sereis tentados a dizer como o profeta Jeremias: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Mas, também a vós, Deus responde: «Não digas que és muito novo; a todos a quem eu te enviar, irás» (Jr 1,6-7). Quando vos sentirdes inadequados, incapazes e frágeis para anunciar e testemunhar a fé, não tenhais medo. A evangelização não é uma iniciativa nossa nem depende primariamente dos nossos talentos, mas é uma resposta confiante e obediente à chamada de Deus, e portanto não se baseia sobre a nossa força, mas na d’Ele. Isso mesmo experimentou o apóstolo Paulo: «Trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós» (2 Cor 4,7).Por isso convido-vos a enraizar-vos na oração e nos sacramentos. A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração; pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas; pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do seu amor. E, de modo mais geral, rezamos pela missão de toda a Igreja, de acordo com a ordem explícita de Jesus: «Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!» (Mt 9,38). Sabei encontrar na Eucaristia a fonte da vossa vida de fé e do vosso testemunho cristão, participando com fidelidade na Missa ao domingo e sempre que possível também durante a semana. Recorrei frequentemente ao sacramento da Reconciliação: é um encontro precioso com a misericórdia de Deus que nos acolhe, perdoa e renova os nossos corações na caridade. E, se ainda não o recebestes, não hesiteis em receber o sacramento da Confirmação ou Crisma preparando-vos com cuidado e solicitude. Junto com a Eucaristia, esse é o sacramento da missão, porque nos dá a força e o amor do Espírito Santo para professar sem medo a fé. Encorajo-vos ainda à prática da adoração eucarística: permanecer à escuta e em diálogo com Jesus presente no Santíssimo Sacramento, torna-se ponto de partida para um renovado impulso missionário.Se seguirdes este caminho, o próprio Cristo vos dará a capacidade de ser plenamente fiéis à sua Palavra e de testemunhá-Lo com lealdade e coragem. Algumas vezes sereis chamados a dar provas de perseverança, particularmente quando a Palavra de Deus suscitar reservas ou oposições. Em certas regiões do mundo, alguns de vós sofrem por não poder testemunhar publicamente a fé em Cristo, por falta de liberdade religiosa. E há quem já tenha pagado com a vida o preço da própria pertença à Igreja. Encorajo-vos a permanecer firmes na fé, certos de que Cristo está ao vosso lado em todas as provas. Ele vos repete: «Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus» (Mt 5,11-12).
7. Com toda a IgrejaQueridos jovens, para permanecer firmes na confissão da fé cristã nos vários lugares onde sois enviados, precisais da Igreja. Ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato «fazei discípulos» é formulado no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja: seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos uns com os outros (cf. Jo 13,35). Agradeço ao Senhor pela preciosa obra de evangelização que realizam as nossas comunidades cristãs, as nossas paróquias, os nossos movimentos eclesiais. Os frutos desta evangelização pertencem a toda a Igreja: «um é o que semeia e outro o que colhe», dizia Jesus (Jo 4,37).A propósito, não posso deixar de dar graças pelo grande dom dos missionários, que dedicam toda a sua vida ao anúncio do Evangelho até os confins da terra. Do mesmo modo bendigo o Senhor pelos sacerdotes e os consagrados, que ofertam inteiramente as suas vidas para que Jesus Cristo seja anunciado e amado. Desejo aqui encorajar os jovens chamados por Deus a alguma dessas vocações, para que se comprometam com entusiasmo: «Há mais alegria em dar do que em receber!» (At 20,35). Àqueles que deixam tudo para segui-Lo, Jesus prometeu o cêntuplo e a vida eterna (cf. Mt 19,29).Dou graças também por todos os fiéis leigos que se empenham por viver o seu dia-a-dia como missão, nos diversos lugares onde se encontram, tanto em família como no trabalho, para que Cristo seja amado e cresça o Reino de Deus. Penso particularmente em quantos atuam no campo da educação, da saúde, do mundo empresarial, da política e da economia, e em tantos outros âmbitos do apostolado dos leigos. Cristo precisa do vosso empenho e do vosso testemunho. Que nada – nem as dificuldades, nem as incompreensões – vos faça renunciar a levar o Evangelho de Cristo aos lugares onde vos encontrais: cada um de vós é precioso no grande mosaico da evangelização!
8. «Aqui estou, Senhor!»Em suma, queridos jovens, queria vos convidar a escutar no íntimo de vós mesmos a chamada de Jesus para anunciar o seu Evangelho. Como mostra a grande estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o seu coração está aberto para amar a todos sem distinção, e seus braços estendidos para alcançar a cada um. Sede vós o coração e os braços de Jesus. Ide testemunhar o seu amor, sede os novos missionários animados pelo seu amor e acolhimento. Segui o exemplo dos grandes missionários da Igreja, como São Francisco Xavier e muitos outros.No final da Jornada Mundial da Juventude em Madrid, dei a bênção a alguns jovens de diferentes continentes que partiam em missão. Representavam a multidão de jovens que, fazendo eco às palavras do profeta Isaías, diziam ao Senhor: «Aqui estou! Envia-me» (Is 6,8). A Igreja tem confiança em vós e vos está profundamente grata pela alegria e o dinamismo que trazeis: usai os vossos talentos generosamente ao serviço do anúncio do Evangelho. Sabemos que o Espírito Santo se dá a quantos, com humildade de coração, se tornam disponíveis para tal anúncio. E não tenhais medo! Jesus, Salvador do mundo, está conosco todos os dias, até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).Dirigido aos jovens de toda a terra, este apelo assume uma importância particular para vós, queridos jovens da América Latina. De fato, na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Aparecida, no ano de 2007, os bispos lançaram uma «missão continental». E os jovens, que constituem a maioria da população naquele continente, representam uma força importante e preciosa para a Igreja e para a sociedade. Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que a Jornada Mundial da Juventude retorna à América Latina, exorto todos os jovens do continente: transmiti aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa fé.A Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, também invocada sob os títulos de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Guadalupe, acompanhe cada um de vós em vossa missão de testemunhas do amor de Deus. A todos, com especial carinho, concedo a minha Bênção Apostólica.



Vaticano, 18 de outubro de 2012. 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

10 CONSELHOS DE BENTO XVI AOS JOVENS



1) Conversar com Deus
“Algum de vós poderia talvez identificar-se com a descrição que Edith Stein fez da sua própria adolescência, ela, que viveu depois no Carmelo de Colônia: “Tinha perdido consciente e deliberadamente o costume de rezar”. Durante estes dias (de Jornada Mundial da Juventude) podereis recuperar a experiência vibrante da oração como diálogo com Deus, porque sabemos que nos ama e, a quem, por sua vez, queremos amar”.
2) Contar-lhe as penas e alegrias
“Abri o vosso coração a Deus. Deixai-vos surpreender por Cristo. Dai-lhe o ‘direito de vos falar’ durante estes dias. Abri as portas da vossa liberdade ao seu amor misericordioso. Apresentai as vossas alegrias e as vossas penas a Cristo, deixando que ele ilumine com a sua luz a vossa mente e toque com a sua graça o vosso coração.
3) Não desconfiar de Cristo
“Queridos jovens, a felicidade que buscais, a felicidade que tendes o direito de saborear, tem um nome, um rosto: o de Jesus de Nazaré, oculto na Eucaristia. Só ele dá plenitude de vida à humanidade. Dizei, com Maria, o vosso ‘sim’ ao Deus que quer entregar-se a vós. Repito-vos hoje o que disse no princípio de meu pontificado: Quem deixa entrar Cristo na sua vida não perde nada, nada, absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande. Não! Só com esta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só com esta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só com esta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Estai plenamente convencidos: Cristo não tira nada do que há de formoso e grande em vós, mas leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos homens e a salvação do mundo”.
4) Estar alegres: querer ser santos
“Para além das vocações de consagração especial, está a vocação própria de todo o batizado: também é esta uma vocação que aponta para um ‘alto grau’ da vida cristã ordinária, expressa na santidade. Quando encontramos Jesus e acolhemos o seu Evangelho, a vida muda e somos impelidos a comunicar aos outros a experiência própria (…). A Igreja necessita de santos. Todos estamos chamados à santidade, e só os santos podem renovar a humanidade. Convido-vos a que vos esforceis nestes dias por servir sem reservas a Cristo, custe o que custar. O encontro com Jesus Cristo vos permitirá apreciar interiormente a alegria da sua presença viva e vivificante, para testemunhá-la depois no vosso ambiente”.
5) Deus: tema de conversa com os amigos
“São tantos os nossos companheiros que ainda não conhecem o amor de Deus, ou procuram encher o coração com sucedâneos insignificantes. Portanto, é urgente ser testemunhos do amor que se contempla em Cristo. Queridos jovens, a Igreja necessita autênticos testemunhos para a nova evangelização: homens e mulheres cuja vida tenha sido transformada pelo encontro com Jesus; homens e mulheres capazes de comunicar esta experiência aos outros”.
6) No Domingo, ir à Missa
“Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e ajudai também os outros a descobri-la. Certamente, para que dela emane a alegria que necessitamos, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais profundamente, devemos aprender a amá-la. Comprometamo-nos com isso, vale a pena! Descubramos a íntima riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos os que fazemos uma festa para nós, mas, pelo contrário, é o próprio Deus vivo que prepara uma festa para nós. Com o amor à Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre que a nossa vida comece novamente”.
7) Demonstrar que Deus não é triste
“Quem descobriu Cristo deve levar os outros para ele. Uma grande alegria não se pode guardar para si mesmo. É necessário transmiti-la. Em numerosas partes do mundo existe hoje um estranho esquecimento de Deus. Parece que tudo anda igualmente sem ele. Mas ao mesmo tempo existe também um sentimento de frustração, de insatisfação de tudo e de todos. Dá vontade de exclamar: Não é possível que a vida seja assim! Verdadeiramente não”.
8) Conhecer a fé
“Ajudai os homens a descobrir a verdadeira estrela que nos indica o caminho: Jesus Cristo. Tratemos, nós mesmos, de conhecê-lo cada vez melhor para poder conduzir também os outros, de modo convincente, a ele. Por isso é tão importante o amor à Sagrada Escritura e, em consequência, conhecer a fé da Igreja que nos mostra o sentido da Escritura”.
9) Ajudar: ser útil
“Se pensarmos e vivermos inseridos na comunhão com Cristo, os nossos olhos se abrem. Não nos conformaremos mais em viver preocupados somente conosco mesmo, mas veremos como e onde somos necessários. Vivendo e atuando assim dar-nos-emos conta rapidamente que é muito mais belo ser úteis e estar à disposição dos outros do que preocupar-nos somente com as comodidades que nos são oferecidas. Eu sei que vós, como jovens, aspirais a coisas grandes, que quereis comprometer-vos com um mundo melhor. Demonstrai-o aos homens, demonstrai-o ao mundo, que espera exatamente este testemunho dos discípulos de Jesus Cristo. Um mundo que, sobretudo mediante o vosso amor, poderá descobrir a estrela que seguimos como crentes”.
10) Ler a Bíblia
“O segredo para ter um ‘coração que entenda’ é edificar um coração capaz de escutar. Isto é possível meditando sem cessar a palavra de Deus e permanecendo enraizados nela, mediante o esforço de conhecê-la sempre melhor. Queridos jovens, exorto-vos a adquirir intimidade com a Bíblia, a tê-la à mão, para que seja para vós como uma bússola que indica o caminho a seguir.Lendo-a, aprendereis a conhecer CristoSão Jerônimo observa a este respeito: ‘O desconhecimento das Escrituras é o desconhecimento de Cristo’”.
Fonte: CN

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Solenidade de todos os santos



Hoje, a Igreja não celebra a santidade de um cristão que se encontra no Céu, mas sim, de todos. Isto, para mostrar concretamente, a vocação universal de todos para a felicidade eterna. 

"Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade: 'Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito' "(Mt 5,48) (CIC 2013).

Sendo assim, nós passamos a compreender o início do sermão do Abade São Bernardo:"Para que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas? A eles que, segundo a promessa do Filho, o Pai celeste glorifica? Os santos não precisam de nossas homenagens. Não há dúvida alguma, se veneramos os santos, o interesse é nosso, não deles".

Sabemos que desde os primeiros séculos os cristãos praticam o culto dos santos, a começar pelos mártires, por isto hoje vivemos esta Tradição, na qual nossa Mãe Igreja convida-nos a contemplarmos os nossos "heróis" da fé, esperança e caridade. Na verdade é um convite a olharmos para o Alto, pois neste mundo escurecido pelo pecado, brilham no Céu com a luz do triunfo e esperança daqueles que viveram e morreram em Cristo, por Cristo e com Cristo, formando uma "constelação", já que São João viu: "Era uma imensa multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas" (Ap 7,9). 

Todos estes combatentes de Deus, merecem nossa imitação, pois foram adolescentes, jovens, homens casados, mães de família, operários, empregados, patrões, sacerdotes, pobres mendigos, profissionais, militares ou religiosos que se tornaram um sinal do que o Espírito Santo pode fazer num ser humano que se decide a viver o Evangelho que atua na Igreja e na sociedade. Portanto, a vida destes acabaram virando proposta para nós, uma vez que passaram fome, apelos carnais, perseguições, alegrias, situações de pecado, profundos arrependimentos, sede, doenças, sofrimentos por calúnia, ódio, falta de amor e injustiças; tudo isto, e mais o que constituem o cotidiano dos seguidores de Cristo que enfrentam os embates da vida sem perderem o entusiasmo pela Pátria definitiva, pois "não sois mais estrangeiros, nem migrantes; sois concidadãos dos santos, sois da Família de Deus" (Ef 2,19). 

Neste dia a Mãe Igreja faz este apelo a todos nós, seus filhos: "O apelo à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade se dirige a todos os fiéis cristãos." "A perfeição cristã só tem um limite: ser ilimitada" (CIC 2028).
CN

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Vou ao cemitério no Dia de Finados?




“Esta é a morada de Deus-com-os-homens. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21,3-4).
Aproxima-se um dos dias mais emblemático de todo calendário civil e religioso: o dia de finados - dia de sentimento de perda e de saudade, dia de recolhimento, de silêncio e de oração, dia de esperança e de fé na ressurreição dos mortos.
Com espírito pastoral, gostaria de condividir com vocês os sentimentos mais profundos, as emoções mais verdadeiras e a fé mais autêntica e sincera que invadem o meu coração de irmão, de amigo e de pastor: Um autor desconhecido escreveu recentemente o seguinte: “tudo no mundo morre. O tempo todo. A cada segundo, folhas caem, flores murcham, você pisa numa formiga, a leoa acerta um pulo letal no cervo, 20 pessoas morrem em uma enchente, criança leva bala perdida em tiroteio, motorista dorme ao volante e caminhão choca-se com carro, matando toda uma família. É cientificamente comprovado. Tudo que está vivo pode morrer. Mas quando alguém que você ama morre, não há ciência, razão. O coração desliga-se do cérebro e grita sua dor na única linguagem que conhece: a cada batida...”
A morte é a nossa companheira de viagem. Ela está presente em toda a fase da nossa existência. A morte é certa; mas não há somente morte; a morte é vida no além. Santa Teresinha já dizia: “não morro, entro na vida”. Jesus Cristo é nossa páscoa, vida e ressurreição. Nossas vidas estão nas mãos de Deus. No céu o veremos face a face e saberemos como Ele é.
No dia de finados é comum irmos ao cemitério para rezar pelos defuntos. A oração por eles é tradição da Igreja católica. Outro dia, numa visita pastoral, no cemitério, encontrei a seguinte frase, meio empoeirada, amarelada pelo tempo, pouco observada, mas que continha uma grande verdade: “homenagem dos que vão morrer aos que já morreram”. Somente os que ainda não morreram podem homenagear os que já morreram. Visitar o cemitério, mesmo sendo um costume antigo, é ainda hoje uma atitude cristã louvável, quando nasce da fé e se alimenta da ressurreição. Não podemos deixar que se percam nem o seu valor e nem a sua beleza. Mas como visitar um cemitério? Como se comportar numa vista como esta? O que fazer? Como rezar? O que levar e o que deixar?
A Igreja quando reza pelos defuntos tem em mente três motivos: - primeiro, a comunhão existente entre todos os membros de Cristo, vivos e mortos: na morte, como na vida, somos todos irmãos; - segundo, consolar, confortar e prestar ajuda espiritual a quem está triste e enlutado pela morte de um ente querido; - terceiro, ajudar espiritualmente a quem morreu, de modo que, se for da vontade de Deus a oração ajude a se purificar e chegar a Deus.
Portanto, diante do desespero e do relativismo, que fazem ver a morte como o final da existência, Jesus oferece a esperança da ressurreição e da vida eterna, a fim de Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28). É Ele quem nos faz passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo para o sentido da vida, das trevas para a luz, da descrença para a fé, do desalento para a esperança que não engana.
Permitam-me, por gentileza, sugerir-lhes algumas atitudes para acompanhá-los ao cemitério: - momento de oração: reservem um tempo para a oração pessoal; - acendam velas para que seus entes queridos fiquem iluminados pela luz de Cristo; - cubram suas sepulturas com os mantos das flores para a beleza dos olhos e o encanto da alma; - ajudem nas limpezas do ambiente e dos túmulos dos seus entes queridos; - participem das celebrações, eucarística ou da palavra, escutem a Palavra de Deus e comunguem, se puderem; - e creiam na ressurreição da carne e na vida eterna. Cristo ressuscitado, vida e esperança, estará lá e se colocará no nosso meio para enxugar nossas lágrimas, fortalecer nossa fé e aumentar a nossa esperança.
Neste Ano da Fé, eu, pessoalmente, “creio na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna; e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.
Por todos os defuntos, rezemos juntos: “Descanso eterno, dai-lhes, Senhor. E a luz perpétua os iluminem. Descansem em paz. Amém!
Dom Pedro Brito Guimarães


domingo, 21 de outubro de 2012

Escola de Animadores Vocacionais

Irmã Valdelis, Irmã Valéria, Pe Emerson, Pe Leandro, Pe Zezinho, Sem. Aparecido, Sem Marcelo

Aconteceu em Guarapuava-PR nos dias 19, 20 e 21 de outubro mais uma etapa da Escola de Animadores Vocacionais do Regional Sul II. Foi tratado sobre os documentos vocacionais, tendo como assessor o Pe Leandro dos Santos da Diocese de Taubaté-SP. 
Da diocese de Apucarana estiveram presentes o Padre Emerson Jesus Rodrigues, Irmã Valéria Nascimento OSJ, Irmã Valdelis Queiroz ISCL, Seminaristas Aparecido Marcos Primo e Marcelo Beltrame.

Mestre, em teu nome lançarei as redes" (Lc 5,5)




Impulsionados  pelas propostas e exigências do Terceiro Congresso Vocacional do Brasil e do Segundo Congresso Latino-Americano e Caribenho de Vocações   o Regional Sul II, está empenhando-se me preparar os Animadores Vocacionais. Neste sentido que aconteceu nos dias 19 a 21 de outubro o Terceiro Módulo da Escola Vocacional do Regional Sul II na Casa de Formação Nossa Senhora de Guadalupe em Guarapuava.
Nesta etapa aprofundo-se os Documentos Vocacionais Atuais, com assessoria do Padre Leandro dos Santos, da Diocese de Taubaté-SP.  Está sendo um momento rico de crescimento e empenho pelas vocações em nosso Regional.  Ao todo a Escola conta com a participação de 50 pessoas, oriundas das Dioceses e congregações religiosas que compõem o Regional.
Os objetivos da Escola Vocacional são: Capacitar Animadores (as) da PV/SAV para que atuem de forma mais qualificada nas diversas realidades que envolvem a Animação Vocacional; Possibilitar um momento rico em conteúdo formativo; Despertar a urgência de um trabalho integrado; Conscientizar o Animador e a Animadora Vocacional de sua importância no processo vocacional em todas as suas etapas; Aprofundar o conhecimento da dinâmica espiritual que envolve a PV/SAV.
Rogamos a Nossa Senhora do Rocio, Rainha e Padroeira do Paraná que seja um trabalho profícuo e de muitas bênçãos vocacionais para nossas dioceses.  

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O Concílio Vaticano II: A primavera na Igreja

Sessão do Concílio Vaticano II na Basílica de São Pedro



Em suas homilias, com muita insistência, o papa João XXIII comparava o Concílio a uma nova primavera, que suscitaria profunda renovação na vida da Igreja. Ele enfatizava o elemento-surpresa, para ressaltar a intervenção do Espírito Santo na própria ideia de convocar um concílio. Esta convicção se fortalecia na rápida e entusiasta adesão à proposta do papa de realizar um concílio ecumênico para o nosso tempo.
Depois de 50 anos, é possível, e conveniente, olhar os fatos agora e encontrar razões históricas que ajudem a entender como o Concílio se tornou viável. Na verdade, ele se constituiu numa grande surpresa, que se explica à luz de intensas iniciativas eclesiais, que vinham dando consistência e vigor à caminhada da Igreja desde o fim do século 19, culminando com o pontificado de Pio XII.
A referência a Pio XII torna-se indispensável para evocar o contexto eclesial que precedeu o Vaticano II. Desde o início do seu pontificado, em 1939, ele conduziu com muita firmeza todos os assuntos da Igreja. Sua excepcional capacidade intelectual lhe permitia abordar pessoalmente as mais variadas temáticas, com lucidez teológica e com firmeza disciplinar. De tal modo que, ao terminar seu mandato, em 1958, deixava a Igreja atualizada e em ordem, principalmente do ponto de vista disciplinar e teológico. Ninguém podia imaginar que estivesse às vésperas de uma convocação conciliar.
Como a história antiga se refere ao contexto do Império Romano por ocasião do nascimento de Cristo, dizendo que o Império estava “toto orbe in pace composito” – “estando em paz o mundo todo”, assim se podia dizer do estado da Igreja deixado por Pio XII: “tota ecclesia in ordine composita”.

A proposta
Pio XII tinha deixado a Igreja em completa ordem. Parecia não haver nenhuma necessidade de concílio. O contraste de personalidades ajuda a compreender a diferença de procedimentos. Cauteloso e precavido, Pio XII tinha nomeado uma “comissão secreta” para estudar a viabilidade de um concílio. Ao passo que João XXIII teve a ideia, e, na primeira oportunidade, propôs para toda a Igreja, que prontamente a acatou, desencadeando um processo que logo se tornou irreversível.
Mas a rapidez da adesão não se deveu só à simpatia de João XXIII. Havia caudais subterrâneos na Igreja, que aguardavam a oportunidade de emergir e mostrar sua força. O anúncio de um concílio, com a abertura proposta por João XXIII, constituiu-se em ocasião propícia para muitas iniciativas eclesiais se firmarem, expressando seus valores, e se inserirem na renovação eclesial, proposta pelo Concílio.
Assim, bem ao contrário de parecer estranho à conjuntura eclesial, o Concílio se tornou um vasto estuário, que podia recolher a grande riqueza teológica, litúrgica, bíblica, espiritual e pastoral que a Igreja tinha cultivado ao longo do seu último século.
O Concílio Vaticano II não foi, em absoluto, uma ruptura na caminhada da Igreja. Mas uma excepcional oportunidade de valorização dos preciosos aportes dos diversos movimentos eclesiais que precederam o Concílio, sem os quais ele não se entenderia.

Entre eles, os movimentos litúrgico, bíblico e ecumênico, a ação católica e o Movimento por um Mundo Melhor, liderado pelo padre Lombardi, que identificou rapidamente no Concílio a realização mais ampla de todos os seus anseios de renovação eclesial.

A descoberta
Convocado o Concílio, a Igreja se deu conta da riqueza que tinha acumulado, em forma de propostas pastorais, de valores a serem assumidos e partilhados, de energias que se traduziam em prontidão generosa e contagiava o povo de Deus, que se mostrava alegre e feliz por ver que se abriam as portas de uma renovação em profundidade de toda a Igreja.
Porém, sobretudo, a Igreja pôde dispor da riqueza inestimável de peritos em todas as áreas. Eles foram convocados para colaborar na realização do Concílio. Colocaram generosamente seus talentos a serviço dos grandes temas que tal iniciativa ia abordando. Sem saber, a Igreja tinha se preparado longamente para a ocasião. Esta é a verdade que agora devemos reconhecer com mais evidência e lucidez. Cada um dos movimentos deixou marcas evidentes, tanto na preparação do Concílio, como na redação dos seus documentos. O litúrgico foi o primeiro a mostrar sua contribuição, com seu caudal de pesquisas feitas em diversos mosteiros, sobretudo da França e da Bélgica. Este movimento já tinha sido valorizado por Pio XII na encíclica Mediator Dei, de 1947. E tinha produzido a restauração da Semana Santa em 1955, que se constitui em preâmbulo histórico da grande renovação litúrgica proposta pelo Concílio.
O movimento bíblico já tinha contado com a encíclica Divino Afflante Spiritu, de 1943, na qual, Pio XII recolheu os últimos avanços das pesquisas bíblicas. Por sua vez, os estudos bíblicos tinham aproximado teólogos católicos e protestantes, fortalecendo o movimento ecumênico, que propiciou a presença de numerosos observadores de outras Igrejas, com o influxo positivo que este fato proporcionou ao Concílio.
A Ação Católica, nascida na Bélgica, mas assumida com entusiasmo ainda no pontificado de Pio XI, propiciou o envolvimento dos leigos, que antecederam na prática à grande afirmação conciliar da visão de Igreja como “povo de Deus”.
Tudo isso mostra como o Concílio pôde ter sido, sim, uma primavera surpreendente, mas não foi um fruto temporão. Ele resultou da rica caminhada da Igreja, que ele acolheu, aprofundou e consolidou.
O Concílio Vaticano II precisa ser visto como integrante da vida da Igreja, tanto na sua preparação, como na sua realização, e agora na implementação de propostas de renovação eclesial. Assim ele mostra uma permanente validade.

* Dom Luiz Demétrio Valentini é bispo de Jales (SP). Participou da 4a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Santo Domingo (República Dominicana), em 1992; do Sínodo Especial da América, em 1997; e da 5a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, na cidade de Aparecida (SP), em 2007.