domingo, 22 de janeiro de 2012

Conversão de São Paulo

O martírio de São Paulo é celebrado junto com o de São Pedro, em 29 de junho, mas sua conversão tem tanta importância para a história da Igreja que merece uma data à parte. Neste dia, no ano 1554, deu-se também a fundação da que seria a maior cidade do Brasil, São Paulo, que ganhou seu nome em homenagem a tão importante acontecimento. 

Saulo, seu nome original, nasceu no ano 10 na cidade de Tarso, na Cilícia, atual Turquia. À época era um pólo de desenvolvimento financeiro e comercial, um populoso centro de cultura e diversões mundanas, pouco comum nas províncias romanas do Oriente. Seu pai Eliasar era fariseu e judeu descendente da tribo de Benjamim, e, também, um homem forte, instruído, tecelão, comerciante e legionário do imperador Augusto. Pelo mérito de seus serviços recebeu o título de Cidadão Romano, que por tradição era legado aos filhos. Sua mãe uma dona de casa muito ocupada com a formação e educação do filho. 

Portanto, Saulo era um cidadão romano, fariseu de linhagem nobre, bem situado financeiramente, religioso, inteligente, estudioso e culto. Aos quinze anos foi para Jerusalém dar continuidade aos estudos de latim, grego e hebraico, na conhecida Escola de Gamaliel, onde recebia séria educação religiosa fundamentada na doutrina dos fariseus, pois seus pais o queriam um grande Rabi, no futuro. 

Parece que era mesmo esse o anseio daquele jovem baixo, magro, de nariz aquilino, feições morenas de olhos negros, vivos e expressivos. Saulo já nessa idade se destacava pela oratória fluente e cativante marcada pela voz forte e agradável, ganhando as atenções dos colegas e não passando despercebido ao exigente professor Gamaliel. 

Saulo era totalmente contrário ao cristianismo, combatia-o ferozmente, por isso tinha muitos adversários. Foi com ele que Estêvão travou acirrado debate no templo judeu, chamado Sinédrio. Ele tanto clamou contra Estevão que este acabou apedrejado e morto, iniciando-se então uma incansável perseguição aos cristãos, com Saulo à frente com total apoio dos sacerdotes do Sinédrio. 

Um dia, às portas da cidade de Damasco, uma luz, descrita nas Sagradas Escrituras como "mais forte e mais brilhante que a luz do Sol", desceu dos céus, assustando o cavalo e lançando ao chão Saulo , ao mesmo tempo em que ouviu a voz de Jesus pedindo para que parasse de persegui-Lo e aos seus e, ao contrário, se juntasse aos apóstolos que pregavam as revelações de Sua vinda à Terra. Os acompanhantes que também tudo ouviram, mas não viram quem falava, quando a luz desapareceu ajudaram Saulo a levantar pois não conseguia mais enxergar. Saulo foi levado pela mão até a cidade de Damasco, onde recebeu outra "visita" de Jesus que lhe disse que nessa cidade deveria ficar alguns dias pois receberia uma revelação importante. A experiência o transformou profundamente e ele permaneceu em Damasco por três dias sem enxergar, e à seu pedido também sem comer e sem beber. 

Depois Saulo teve uma visão com Ananias, um velho e respeitado cristão da cidade, na qual ele o curava. Enquanto no mesmo instante Ananias tinha a mesma visão em sua casa. Compreendendo sua missão, o velho cristão foi ao seu encontro colocando as mãos sobre sua cabeça fez Saulo voltar a enxergar, curando-o. A conversão se deu no mesmo instante pois ele pediu para ser Batizado por Ananias. De Damasco saiu a pregar a palavra de Deus, já com o nome de Paulo, como lhe ordenara Jesus, tornando-se Seu grande apóstolo. 

Sua conversão chamou a atenção de vários círculos de cidadãos importantes e Paulo passou a viajar pelo mundo, evangelizando e realizando centenas de conversões. Perseguido incansavelmente, foi preso várias vezes e sofreu muito, sendo martirizado no ano 67, em Roma. Suas relíquias se encontram na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na Itália, festejada no dia de sua consagração em 18 de novembro. 

O Senhor fez de Paulo seu grande apóstolo, o apóstolo dos gentios, isto é, o evangelizador dos pagãos. Ele escreveu 14 cartas, expondo a mensagem de Jesus, que se transformaram numa verdadeira "Teologia do Novo Testamento". Também é o patrono das Congregações Paulinas que continuam a sua obra de apóstolo, levando a mensagem do Cristianismo a todas as partes do mundo, através dos meios de comunicação.

sábado, 21 de janeiro de 2012

São Vicente Palloti

Dia 22 de Janeiro
Vicente Pallotti nasceu em Roma , dia 21 de abril de 1795, numa família de classe média. Com sua mãe aprendeu a amar os irmãos mais pobres, crescendo generoso e bondoso. Enquanto nos estudos mostrava grande esforço e dedicação, nas orações mostrava devoção extremada ao Espírito Santo. Passava as férias no campo, na casa do tio, onde distribuía aos empregados os doces que recebia, gesto que o pai lhe ensinara: nenhum pobre saía de sua mercearia de mãos vazias. 

Às vezes sua generosidade preocupava, pois geralmente no inverno, voltava para casa sem os sapatos e o casaco. Pallotti admirava Francisco de Assis, pensou em ser capuchinho, mas não foi possível devido sua frágil saúde. Em 1818, se consagrou sacerdote pela diocese de Roma,onde ocupou cargos importantes na hierarquia da Igreja. Muito culto obteve o doutorado em Filosofia e Teologia. 

Mas foi a sua atuação em obras sociais e religiosas que lhe trouxe a santidade. Teve uma vida de profunda espiritualidade, jamais se afastando das atividades apostólicas. É fruto do seu trabalho, a importância que o Concílio Vaticano II, cento e trinta anos após sua morte, decretou para o apostolado dos leigos, dando espaço para o trabalho deles junto às comunidades cristãs. Necessidade primeira deste novo milênio, onde a proliferação dos pobres e da miséria, infelizmente se faz cada vez mais presente. 

Vicente defendia que todo cristão leigo, através do sacramento do batismo, tem o legítimo direito assim como a obrigação de trabalhar pela pregação da fé católica, da mesma forma que os sacerdotes. Esta ação de apostolado que os novos tempos exigiria de todos os católicos, foi sem dúvida seu carisma de inspiração visionária . Fundou, em 1835, a Obra do Apostolado Católico, que envolvia e preparava os leigos para promoverem as suas associações evangelizadoras e de caridade, orientados pelos religiosos das duas Congregações criadas por ele para esta finalidade, a dos Padres Palotinos e das Irmãs Palotinas. 

Vicente Pallotti morreu em Roma, no dia 22 de janeiro 1850, aos cinqüenta e cinco anos de idade. De saúde frágil, doou naquele inverno seu casaco a um pobre, adquirindo a doença que o vitimou. Assim sendo não pôde ver as duas famílias religiosas serem aprovadas pelo Vaticano, que devolvia as Regras indicando sempre algum erro. Com certeza um engano abençoado, pois a continuidade e a persistência destas Obras trouxeram o novo ânimo que a Igreja necessitava. Em 1904, foram reconhecidas pela Santa Sé, motivando o pedido de sua canonização. 

O papa Pio XI o beatificou reconhecendo sua atuação de inspirado e "verdadeiro operário das missões". Em 1963, as suas idéias e carisma espiritual foi plenamente reconhecido pelo papa João XXIII que proclamou Vicente Pallotti, Santo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

São Sebastião, Mártir

Dia 20 de Janeiro
A reprodução do martírio de São Sebastião, amarrado a uma árvore e atravessado por flechas é uma imagem milhares de vezes retratada em quadros, pinturas e esculturas, por artistas de todos os tempos. Entretanto, nem todos sabem que o destemido Santo não morreu daquela maneira. O suplício das flechas não lhe tirou a vida, resguardada pela fé em Cristo. Vejamos como tudo aconteceu. 

Sebastião nasceu em Narbônia, na Gália, atual França, mas foi criado por sua mãe em Milão, na Itália, de acordo com os registros de Santo Ambrósio. Pertencente a uma família cristã, foi batizado ainda pequenino. Mais tarde, tomou a decisão de engajar-se nas fileiras romanas e chegou a ser considerado um dos oficiais prediletos do imperador Diocleciano. Contudo, nunca deixou de ser um cristão convicto e protetor ativo dos cristãos. 

Ele fazia tudo para ajudar os irmãos na fé, procurando revelar o Deus verdadeiro aos soldados e aos prisioneiros. Secretamente, Sebastião conseguiu converter muitos pagãos ao cristianismo. Até mesmo o governador de Roma, Cromácio, e seu filho Tibúrcio foram convertidos por ele. Em certa ocasião, Sebastião foi denunciado, pois estava contrariando o seu dever de oficial da lei. Teve então, que comparecer ante ao imperador para dar satisfações sobre o seu procedimento. 

O imperador da época era ninguém menos que o sanguinário Diocleciano, que lhe dispensara admiração e confiara nele, esperando vê-lo em destacada posição no seu exército, numa brilhante carreira e por isso considerou-se traído. Levado à sua presença, Sebastião não negou sua fé. O imperador lhe deu ainda uma chance para que escolhesse entre sua fé em Cristo e o seu posto no exército romano. Ele não titubeou, ficou mesmo com Cristo. A sentença foi imediata: deveria ser amarrado a uma árvore e executado a flechadas. 

Após a ordem ser executada, Sebastião foi dado como morto e ali mesmo abandonado, pela mesma guarda pretoriana que antes chefiara. Entretanto, quando uma senhora cristã foi até o local à noite, pretendendo dar-lhe um túmulo digno encontrou-o vivo! Levou-o para casa e tratou de suas feridas até vê-lo curado. 

Depois, cumprindo o que lhe vinha da alma, ele mesmo se apresentou àquele imperador anunciando o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo e censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusando-o de inimigo do Estado. Perplexo e irado com tamanha ousadia, o sanguinário Diocleciano o entregou à guarda pretoriana após condena-lo, desta vez, ao martírio no Circo. Sebastião foi executado então com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte, no dia 20 de janeiro de 288. 

Os algozes cumpriram a ordem e, para evitar a sua veneração, foi jogado numa fossa, de onde a piedosa cristã Santa Luciana o tirou, para sepulta-lo junto de São Pedro e São Paulo. Posteriormente, em 680, as relíquias foram transportadas solenemente para a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, construída pelo imperador Constantino. Naquela ocasião em Roma a peste vitimava muita gente, mas a terrível epidemia desapareceu na hora daquela transladação. Em outras ocasiões foi constatado o mesmo fato; em 1575 em Milão, e em 1599 em Lisboa, ambas ficando livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Sebastião 

No Brasil, diz a tradição, que no dia da festa do padroeiro, em 1565, ocorreu a batalha final que expulsou os franceses que ocupavam a cidade do Rio de Janeiro, quando São Sebastião foi visto de espada na mão entre os portugueses, mamelucos e índios, lutando contra os invasores franceses calvinistas. 

Ele é o protetor da Humanidade, contra a fome, a peste e a guerra e é claro do cartão postal do Brasil, a cidade maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dom João Braz de Aviz, novo cardeal da Igreja

Na oração do Angelus do dia 6, o papa Bento XVI anunciou que no próximo dia 18 de fevereiro realizará um Consistório para a criação de 22 novos cardeais, dentre eles está o ex-arcebispo de Brasília e atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, dom João Braz de Aviz.
Na lista dos 22 escolhidos pelo papa estão 16 da Europa, quatro das Américas (incluindo dom João) e dois da Ásia.
Dom João Braz de Aviz se juntará aos também cardeais brasileiros dom Eugênio Sales, dom Evaristo Arns, dom José Falcão, dom Serafim Fernandes Araújo, dom Cláudio Hummes, dom Geraldo Majella Agnelo, dom Eusébio Sheid, dom Odilo Pedro Sherer e dom Raymundo Damasceno de Assis.

Os nomes escolhidos pelo papa e suas respectivas nacionalidades são:
Dom Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos (Itália)
Dom Manuel Monteiro de Castro, Penitenciário-Mor (Portugal)
Dom Santos Abril y Castelló, arcebispo da Basílica Papal de Santa Maria Maior (Espanha)
Dom Antônio Maria Vegliò, presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (Itália);
Dom Giuseppe Bertelli, presidente da Pontifícia Comissão para a Cidade do Vaticano e presidente do Governatorato do Vaticano (Itália);
Dom Francesco Coccopalmerio, presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos; (Itália);
Dom Domenico Calcagno, presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica; (Itália)
Dom Giuseppe Versaldi, presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé; (Itália)
Dom Giuseppe Betori, arcebispo de Florença (Itália);
Dom Rainer Maria Woelk, arcebispo de Berlim (Alemanha);
Dom Karl Becker, consultor durante muitos anos da Congregação para a Doutrina da Fé. (Alemanha);
Dom Dominik Duka, arcebispo de Praga (República Checa);
Dom Willem Jacobus Eijk, arcebispo de Utrecht (Holanda);
Dom Lucian Muresan, arcebispo maior de Fagaras e Alba Julia dos Romenos (Romenia);
Dom Julien Ries, bispo de Namur (Bélgica);
Dom Prospero Grech, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé (Itália);
Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Brasil);
Dom Edwin O\'Brien Frederik, Pro-Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém (Estados Unidos);
Dom Timothy Michael Dolan, arcebispo de Nova York (Estados Unidos);
Dom Thomas Christopher Collins, arcebispo de Toronto (Canadá);
Dom George Alencherry, arcebispo maior de Ernakulam-Angamaly dos Siro-Malabar (Índia);
Dom John Tong Hon, bispo de Hong Kong (China);

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Batismo do Senhor


Caros irmãos e irmãs
Neste Domingo depois da solenidade da Epifania, celebramos a festa do Batismo do Senhor, que conclui o tempo litúrgico do Natal. Hoje fixamos o olhar em Jesus que, com trinta anos de idade, se fez batizar por João no rio Jordão. Tratava-se de um batismo de penitência, que utilizava o símbolo da água para expressar a purificação do coração e da vida. João, chamado o "Batista", ou seja, o "Batizador", pregava este batismo a Israel para preparar a iminente vinda do Messias; e a todos dizia que depois dele viria outro, maior do que ele, que teria batizado não com a água, mas com o Espírito Santo (cf. Mc 1, 7-8). E eis que quando Jesus foi batizado no Jordão, o Espírito Santo desceu, pairou sobre Ele na aparência corpórea de uma pomba, e João Batista reconheceu que Ele era Cristo, o "Cordeiro de Deus" que veio para tirar o pecado do mundo (cf.Jo 1, 29). Por isso, também o Batismo no Jordão é uma "epifania", uma manifestação da identidade messiânica do Senhor e da sua obra redentora, que culminará num outro "batismo", o da sua morte e ressurreição, pelo qual o mundo inteiro será purificado no fogo da misericórdia divina (cf.Lc12, 49-50).
Nesta festa, João Paulo II costumava administrar o sacramento do Batismo a algumas crianças.
Na manhã de hoje, pela primeira vez, também eu tive a alegria de batizar na Capela Sistina dez recém-nascidos. A estas crianças e às suas famílias, assim como aos padrinhos e às madrinhas, renovo a minha carinhosa saudação. O Batismo das crianças exprime e realiza o mistério do novo nascimento para a vida em Cristo: os pais crentes levam os seus filhos à pia baptismal, que representa o "seio" da Igreja, por cujas águas abençoadas são gerados os filhos de Deus. O dom recebido pelos recém-nascidos deve ser por eles acolhido, quando se tornam adultos, de modo livre e responsável: em seguida, este processo de amadurecimento levá-los-á a receber o sacramento da Crisma ou da Confirmação que, precisamente, confirmará o Baptismo e conferirá a cada um o "selo" do Espírito Santo.
Estimados irmãos e irmãs, a hodierna solenidade constitua uma ocasião propícia para todos os cristãos voltarem a descobrir com alegria a beleza do seu Batismo que, quando é vivido com fé, constitui uma realidade sempre actual: renova-nos continuamente, à imagem do homem novo, na santidade dos pensamentos e das acções. Além disso, o Batismo une os cristãos de todas as confissões. Enquanto baptizados, todos nós somos filhos de Deus em Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor. Que a Virgem Maria nos conceda compreender cada vez mais o valor do nosso Batismo e testemunhá-lo com uma digna conduta de vida.

Epifania do Senhor

Na solenidade da Epifania, a Igreja continua a contemplar e a celebrar o mistério do nascimento de Jesus Salvador. Em particular, a celebração hodierna sublinha o destino e o significado universais deste nascimento. Fazendo-se homem no seio de Maria, o Filho de Deus veio não só para o povo de Israel, representado pelos pastores de Belém, mas também para a humanidade inteira, representada pelos Magos. E é precisamente a respeito dos Magos e do seu caminho em busca do Messias (cf. Mt 2, 1-12) que hoje a Igreja nos convida a meditar e a rezar. No Evangelho ouvimos que eles, tendo chegado a Jerusalém provenientes do Oriente, perguntam: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo» (V. 2). Que tipo de pessoas eram, e que espécie de estrela era aquela? Eles eram, provavelmente, sábios que perscrutavam o céu, mas não para procurar «ler» o futuro nos astros, eventualmente para obter disto um lucro; eram sobretudo homens «à procura» de algo mais, em busca da verdadeira luz, que seja capaz de indicar o caminho a percorrer na vida. Eram pessoas convictas de que na criação existe aquela que poderíamos definir como a «assinatura» de Deus, uma assinatura que o homem pode e deve procurar descobrir e decifrar. Talvez o modo para conhecer melhor estes Magos e compreender o seu desejo de se deixar guiar pelos sinais de Deus consista em deter-nos para considerar aquilo que eles encontram ao longo do seu caminho, na grande cidade de Jerusalém.
Em primeiro lugar, encontraram o rei Herodes. Certamente, ele estava interessado no menino de que os Magos falavam; no entanto, não com a finalidade de o adorar, como quer fazer entender, mentindo, mas sim para o suprimir. Herodes é um homem de poder, que no próximo só consegue ver um rival para combater. No fundo, se meditarmos bem, até Deus lhe parece um rival, aliás, um rival particularmente perigoso, que gostaria de privar os homens do seu espaço vital, da sua autonomia, do seu poder; um rival que indica o caminho a percorrer na vida, e assim impede que se realize tudo o que se deseja. Herodes ouve dos seus peritos nas Sagradas Escrituras, as palavras do profeta Miqueias (cf. 5, 1), mas o seu único pensamento é o trono. Então, o próprio Deus deve ser ofuscado e as pessoas devem reduzir-se a ser simples peças para mover no grande tabuleiro do poder. Herodes é uma figura que não nos é simpática e que, instintivamente, julgamos de modo negativo pela sua brutalidade. Mas deveríamos perguntar-nos: existe, porventura, algo de Herodes também em nós? Acaso também nós, às vezes, vemos Deus como uma espécie de rival? Porventura também nós somos cegos diante dos seus sinais, surdos às suas palavras, porque pensamos que Ele impõe limites à nossa vida e não nos permite dispor da existência a nosso bel-prazer? Estimados irmãos e irmãs, quando vemos Deus deste modo, acabamos por nos sentir insatisfeitos e aborrecidos, porque não nos deixamos guiar por Aquele que está no fundamento de tudo. Temos que eliminar da nossa mente e do nosso coração a ideia da rivalidade, a ideia de que conceder espaço a Deus constitui um limite para nós mesmos; devemos abrir-nos à certeza de que Deus é o amor todo-poderoso que nada tira, não ameaça, aliás, é o Único capaz de nos oferecer a possibilidade de viver em plenitude, de sentir a verdadeira alegria.
Sucessivamente, os Magos encontram os estudiosos, os teólogos, os especialistas que sabem tudo sobre as Sagradas Escrituras, que conhecem as suas possíveis interpretações, que são capazes de citar de cor cada um dos seus trechos e que, por conseguinte, são uma ajuda preciosa para quem quer percorrer o caminho de Deus. Contudo, afirma santo Agostinho, eles gostam de ser guias para os outros, indicam a vereda mas não caminham, permanecem imóveis. Para eles, as Escrituras tornam-se uma espécie de atlas a ler com curiosidade, um conjunto de palavras e de conceitos a examinar e sobre o qual debater com sabedoria. Mas, novamente, podemos interrogar-nos: não existe inclusive em nós a tentação de considerar as Sagradas Escrituras, este tesouro extremamente rico e vital para a fé da Igreja, mais como um objecto para o estudo e o debate dos especialistas, do que o Livro que nos indica o caminho para alcançar a vida? Na minha opinião, como indiquei na Exortação Apostólica Verbum Domini, deveria surgir sempre de novo em nós a profunda disposição a considerar a palavra da Bíblia, lida na Tradição viva da Igreja (cf. n. 18), como a verdade que nos diz o que é o homem, e como pode ele realizar-se plenamente, a verdade que é a senda a percorrer no dia-a-dia, juntamente com os demais, se quisermos construir a nossa existência sobre a rocha, e não sobre a areia.
E agora consideremos a estrela. Que tipo de estrela era aquela que os Magos viram e seguiram? Ao longo dos séculos, esta pergunta foi objecto de debate entre os astrónomos. Kepler, por exemplo, considerava que se tratasse de uma «nova», ou de uma «supernova», ou seja, de uma daquelas estrelas que normalmente emanam uma luz ténue mas que, de repente, podem ter uma violenta explosão interna, que produz uma luz extraordinária. Sem dúvida, coisas interessantes, mas que não nos orientam rumo àquilo que é essencial para compreendemos esta estrela. Temos que remontar ao facto de que aqueles homens buscavam os vestígios de Deus; procuravam ler a sua «assinatura» na criação; sabiam que «narram os céus a glória de Deus» (Sl 19 [18], 2); isto é, estavam persuadidos de que Deus pode ser vislumbrado na criação. No entanto, como homens sábios, estavam conscientes também de que não é com um telescópio qualquer, mas com os profundos olhos da razão em busca do sentido último da realidade, e com o desejo de Deus impelido pela fé, que é possível encontrá-lo, aliás, que se torna possível que Deus se aproxime de nós. O universo não é o resultado do caso, como alguns querem fazer-nos crer. Contemplando-o, somos convidados a ler nele algo de profundo: a sabedoria do Criador, a fantasia inesgotável de Deus, o seu amor infinito por nós. Não deveríamos deixar limitar a nossa mente por teorias que chegam apenas a um certo ponto e que — se olharmos bem — não estão de modo algum em concorrência com a fé, mas não conseguem explicar o sentido derradeiro da realidade. Na beleza do mundo, no seu mistério, na sua grandeza e na sua racionalidade não podemos deixar de ler a racionalidade eterna, e não podemos deixar de nos fazer guiar por ela até ao único Deus, Criador do céu e da terra. Se tivermos este olhar, veremos que Aquele que criou o mundo e Aquele que nasceu numa gruta em Belém e continua a habitar no meio de nós na Eucaristia são o único Deus vivo, que nos interpela, nos ama e quer conduzir-nos para a vida eterna.
Herodes, os especialistas das Escrituras, a estrela. Mas sigamos o caminho dos Magos, que chegam a Jerusalém. Em cima da grande cidade, a estrela desaparece, já não se vê. O que signfica? Também neste caso, temos que ler o sinal em profundidade. Para aqueles homens, era lógico procurar o novo rei no palácio real, onde se encontravam os sábios conselheiros da corte. Mas, provavelmente para sua surpresa, tiveram que constatar que aquele recém-nascido não se encontrava nos postos do poder e da cultura, embora naqueles lugares lhes tenham sido oferecidas informações preciosas acerca dele. Ao contrário, deram-se conta de que por vezes o poder, inclusive o do conhecimento, impede o caminho rumo ao encontro com aquele Menino. Então, a estrela orientou-os para Belém, uma pequena cidade; guiou-os entre os pobres, entre os humildes, para encontrar o Rei do mundo. Os critérios de Deus são diferentes dos critérios dos homens; Deus não se manifesta no poder deste mundo, mas sim na humildade do seu amor, daquele amor que pede à nossa liberdade para ser recebido para nos transformar e nos tornar capazes de chegar Àquele que é o Amor. Mas também para nós, as coisas não são tão diferentes de como eram para os Magos. Se nos fosse pedido o nosso parecer sobre a forma como Deus deveria ter salvo o mundo, talvez respondêssemos que devia manifestar todo o seu poder para conceder ao mundo um sistema económico mais justo, no qual cada um pudesse dispor de tudo o que quer. Na realidade, esta seria uma espécie de violência sobre o homem, porque o privaria de elementos fundamentais que o caracterizam. Com efeito, não seriam interpelados a nossa liberdade, nem o nosso amor. O poder de Deus manifesta-se de modo totalmente diferente: em Belém, onde encontramos a aparente impotência do seu amor. E é ali que nós devemos ir, é lá que havemos de encontrar a estrela de Deus.
Assim, parece-nos bem claro também um último elemento importante da vicissitude dos Magos: a linguagem da criação permite-nos percorrer um bom trecho de caminho rumo a Deus, mas não nos concede a luz definitiva. No final, para os Magos era indispensável ouvir a voz das Sagradas Escrituras: unicamente elas podiam indicar-lhes o caminho. A Palavra de Deus é a verdadeira estrela que, na incerteza dos discursos humanos, nos oferece o imenso esplendor da verdade divina. Caros irmãos e irmãs, deixemo-nos guiar pela estrela, que é a Palavra de Deus; sigamo-la na nossa vida, caminhando com a Igreja, onde a Palavra armou a sua tenda. A nossa senda será sempre iluminada por uma luz que sinal algum nos pode oferecer. E também nós poderemos tornar-nos estrelas para os outros, reflexo daquela luz que Cristo fez resplandecer sobre nós. Amém.

Festa de Santa Maria Mãe de Deus


Oito dias depois da Natividade, primeiro dia do ano novo, o calendário dos santos se abre com a festa de Maria Santíssima, no mistério de sua maternidade divina. Escolha acertada, porque de fato Ela é "a Virgem mãe, Filha de seu Filho, humilde e mais sublime que toda criatura, objeto fixado por um eterno desígnio de amor". Ela tem o direito de chamá-lo "Filho", e Ele, Deus onipotente, chama-a, com toda verdade, Mãe!

Num certo sentido, todo o ano litúrgico segue as pegadas desta maternidade,começando pela solenidade da Anunciação, nove meses antes da Natividade. Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Como todas as mães, trouxe no próprio seio aquele que só ela sabia que se tratava do Filho unigênito de Deus, que nasceu na noite de Belém.
Foi a primeira festa mariana que apareceu na Igreja ocidental. Substituiu o costume pagão das dádivas e começou a ser celebrada em Roma, no século IV. Desde 1931 era no dia 11 de outubro, mas com a última revisão do calendário religioso passou à data atual, a mesma onde antes se comemorava a circuncisão de Jesus, oito dias após ter nascido.
Ela assumiu para si a missão confiada por Deus. Sabendo, por conhecer as profecias, que teria também seu próprio calvário, enquanto mãe daquele que seria sacrificado em nome da salvação da Humanidade. Deus se fez carne por meio de Maria. Ela é o ponto de união entre o Céu e a Terra. Contribuiu para a obtenção da plenitude dos tempos. Sem Maria, o Evangelho seria apenas ideologia, somente "racionalismo espiritualista", como registram alguns autores.
O próprio Jesus através do apóstolo São Lucas (6,43) nos esclarece: "Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto". Portanto, pelo fruto se conhece a árvore. Santa Isabel, quando recebeu a visita de Maria já coberta pelo Espírito Santo, exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre." (Lc1,42). O Fruto do ventre de Maria é o Filho de Deus Altíssimo, Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor. Quem aceita Jesus, fruto de Maria, aceita a árvore que é Maria. Maria é de Jesus e Jesus é de Maria. Ou se aceita Jesus e Maria ou se rejeita a ambos.
Por tomar esta verdade como dogma é que a Igreja reverencia, no primeiro dia do ano, a Mãe de Jesus. Que a contemplação deste mistério exerça em nós a confiança inabalável na Misericórdia de Deus, para nos levar ao caminho reto, com a certeza de seu auxílio, para abandonarmos os apegos e vaidades do mundo, e assimilarmos a vida de Jesus Cristo, que nos conduz à Vida Eterna. Assim, com esses objetivos entreguemos o novo ano à proteção de Maria Santíssima que, quando se tornou Mãe de Deus, fez-se também nossa Mãe, incumbiu-se de formar em nós a imagem de seu Divino Filho, desde que não oponhamos de nossa parte obstáculos à sua ação maternal.
A comemoração de Maria, neste dia, soma-se ao Dia Universal da Paz. Ninguém mais poderia encarnar os ideais de paz, amor e solidariedade do que ela, que foi o terreno onde Deus fecundou seu amor pelos filhos e de cujo ventre nasceu aquele que personificou a união ente os homens e o amor ao próximo, Nosso Senhor Jesus Cristo. Celebrar Maria é celebrar O nosso Salvador. Dia da Paz, dia de nossa Mãe, Maria Santíssima. Nos tempos sofridos em que vivemos, um dia de reflexão e esperança!

Celebrando a Sagrada Família e as nossas

Ainda vivendo as alegrais do Santo Natal de Jesus Cristo, a Igreja celebra, a festa da Sagrada Família, apresentando-nos Jesus, Maria e José, a família da Nazaré que se tornou modelo para todas as outras. 

A ordem dos nomes não é por acaso; indica a intensidade de santidade de seus membros: Jesus — Deus entre nós; Maria — a cheia de graça; José — o homem justo. Uma família sagrada!

Os textos bíblicos dessa festa litúrgica apresentam-nos qualidades e virtudes que devem ser buscadas para que realmente nossas famílias sejam sagradas. Mas a celebração também nos convida a refletir sobre a família hoje, seus problemas, desafios e esperanças.

Debruçar nosso olhar sobre esta realidade tão próxima de nossa vida cotidiana é bom. Ai de quem não o faz! Se nunca olharmos reflexivamente as realidades cotidianas mais próximas, elas perderão sua evidência vital e decairão inexoravelmente.

Refletir como cristãos sobre a família hoje é uma necessidade, pois estamos sujeitos a uma "pregação" constante, horas a fio, que em nada é cristã. Esta "pregação" imperceptivelmente, sem que o queiramos, transforma nosso pensar, e o transforma para pior.

Na "pregação" de revistas, novelas, filmes, livros e romances, o amor esponsal não é mais entendido como uma entrega da vida ao cônjuge num decidido amor oblativo que, passando pelas crises do convívio de individualidades diferentes, sempre ressurge, renasce, renova-se, cresce e amadurece; para eles, é entendido como busca da "minha" felicidade, isto é, como busca de si, tornando o amor esponsal superficial e frágil, em que a emotividade subjetiva toma lugar da decisão vital, não há capacidade de resistir às inevitáveis tempestades da vida.

O amor esponsal cristão como "decisão de toda uma vida" tem como referencial o amor com que o Senhor nos amou. é um amor que exige busca e luta, sim, mas que dá profunda realização ao viver conjugal, tornando-o elo conquistado de vigor indissolúvel, aliança eterna de duas existências.

É este o amor que tem a capacidade de criar os filhos, educá-los e torná-los aptos para uma vida de bem. Edificados em cima de um fundamento como este, eles não cairão facilmente nos desvios que a face decadente de nossa sociedade ostensivamente lhes oferece como drogas, sexo, alienação das questões sociais e políticas, exasperada afirmação de si, na indiferença e, muitas vezes, na exclusão e na exploração do outro.

Contemplando a Sagrada Família, somos convidados a olhar para as nossas que estão expostas a tantas dificuldades. E somos interpelados pelo Evangelho de Jesus Cristo para que façamos delas verdadeiras comunidades de fé e de amor, promotoras e defensoras da vida em todas as dimensões, alicerçadas nos valores da fidelidade e da indissolubilidade.

Ao celebrarmos a festa da Sagrada Família, somos convidados a viver os valores que as leituras bíblicas dessa celebração nos apresentam. O livro do Eclesiástico nos propõe amar e respeitar nossos pais: "Quem honra seu pai alcança o perdão dos pecados, quem respeita sua mãe é como alguém que ajunta tesouros." E o apóstolo Paulo, na carta aos colossenses, exorta a nos revestirmos de misericórdia, bondade, humildade e mansidão, insiste para que saibamos amar e perdoar. São os caminhos para se construir uma verdadeira família.

Que Jesus, Maria e José abençoem e encorajem nossas famílias para que ela sejam fiéis à missão que Deus lhes confiou, sendo verdadeiras "Igrejas domésticas" a testemunhar para o mundo os valores evangélicos, a exemplo da família santa de Nazaré.


Por: Dom Fernando Mason

Sacerdote presente de Deus para o mundo

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