quarta-feira, 29 de junho de 2011

Creio, mas não pratico


Por Dom Murilo S. R. Krieger, scj

Quando, num encontro de amigos, a conversa gira em torno de assuntos religiosos, é comum alguém declarar, com naturalidade e segurança: "Creio, mas não pratico!" Trata-se de uma afirmação que parece ser tão bem formulada, tão lógica, que, normalmente, ninguém a contesta. Assim, dias depois, em outro grupo, se a discussão for também sobre questões religiosas, é possível que alguém volte a fazer a mesma afirmação. Mais do que uma afirmação isolada, essa idéia de que se pode acreditar sem colocar em prática aquilo em que se acredita é tão comum que já se tornou uma mentalidade em muitos ambientes.

A justificativa desse comportamento varia de pessoa para pessoa. Há aquela que deixou de lado a prática religiosa pela decepção com um líder da comunidade; outra, sem perceber, abandonou, pouco a pouco, sua vida de fé: passou tanto tempo sem ler a Palavra de Deus, sem rezar e sem assistir à missa dominical que, quando notou, já havia organizado sua vida de tal maneira que não havia mais espaço para expressões religiosas; outras pessoas tinham um conhecimento tão superficial de sua religião que, sem grandes questionamentos, a abandonaram. Há, também, as que procuram o batismo dos filhos, a missa de formatura ou de sétimo dia, tão somente como atos sociais.

Afinal, é possível crer sem praticar? Algumas pessoas deixam a prática religiosa com o argumento de que buscam uma maior autenticidade. Dizem não gostar de normas e ritos: preferem uma religião "mais espiritual", sem estruturas. Esquecem-se de que somos seres humanos, não anjos. Os anjos não precisam de sinais, gestos e palavras para se relacionarem. Nós, ao contrário, usamos até nosso corpo como meio de comunicação. Traduzimos nossos sentimentos com um sorriso ou um aperto de mão, uma palavra ou um tapinha nas costas; fazemos questão de nos reunir com a família nos dias de festa e telefonamos para o amigo, cumprimentando-o no dia de seu aniversário; damos uma rosa para nossa mãe e nos encantamos com o gesto da criança que abre seus braços para acolher o pai que chega. Como, pois, relacionar-nos com Deus tão somente com a linguagem dos anjos, que nem conhecemos?

A fé nos introduz na família dos filhos e filhas de Deus; nela, é essencial a prática do amor a Deus e ao próximo. Nossa família cristã tem uma história, uma rica tradição e belíssimas celebrações. Pode ser que alguém não as entenda. Mas, antes de simplesmente ignorá-las ou, pior, de desprezá-las, não seria mais prudente procurar conhecê-las, penetrar em seu significado e descobrir seus valores? O essencial, já escreveu alguém, é invisível aos nossos olhos.

Não se pode querer uma fé sem gestos, com a desculpa da busca de maior autenticidade. O Pai eterno, quando nos quis demonstrar seu amor, levou em conta nosso jeito de ser, de pensar e agir. Mais do que expressar "espiritualmente" seu amor, concretizou-o: enviou-nos seu Filho, que habitou entre nós. Algumas Bíblias, em vez de traduzirem o ato descrito pelo evangelista João, na forma clássica - "e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós" (Jo 1,14) -, preferem a expressão: "e armou sua tenda no meio de nós", para expressar a idéia de que Deus, em Jesus Cristo, passou a morar em uma tenda ao lado da nossa. Em sua primeira carta, S. João dá um testemunho concreto dessa experiência de proximidade: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da Vida (...) isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco" (1Jo 1,1.3). Ele considerou ter sido uma graça especial ter podido ouvir, ver e tocar o Filho de Deus. Jesus, por seu lado, tendo assumido a natureza humana, submeteu-se a ritos: passou noites em oração, foi ao Templo de Jerusalém e freqüentou sinagogas.

"Creio, mas não pratico". A fé ("creio") e a vida ("não pratico") não podem estar assim separadas. Por sua própria natureza, devem estar unidas. Uma fé sem obras é morta; obras, mesmo que piedosas, sem fé tornam-se vazias.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

CORPUS CHRISTI



Nesta quinta-feirra, dia 23 de junho, celebramos a festa do Corpo e Sangue de Cristo. É um momento de oração, reflexão, manifestação pública de nossa fé. É um momento importante, pois a Igreja nos convida a parar. 

O mundo cibernético e financeiro ao nosso redor fala exatamente o contrário. Não se pode perder tempo, pois tempo é dinheiro, é oportunidade. Precisamos correr, fazer as coisas rapidamente para não perder tempo, ser dinâmico e eficaz. 

Um “dia santo” é uma folga durante a nossa jornada para parar, refletir, rezar. Parar para fazer um balanço da situação da nossa fé e tomar consciência dos hábitos de superficialidade e pressa que, às vezes, caracterizam a nossa relação com a Eucaristia celebrada nas nossas comunidades.

Acredito que este é bom momento para avaliar a nossa participação na Missa, celebrando o mistério da Páscoa com a Cruz, Morte e Ressurreião do Senhor. Parar e nos perguntar como nós ouvimos a Palavra e como nos alimentamos com o Pão que nos é dado como presente.

A página de João que a liturgia nos propõe nesta solenidade é algo que impressiona e fascina. Jesus diz para tomar e comer sua carne e beber do cálice com o seu sangue! Parece loucura! Jesus está no meio de nós com seu corpo, sua história, sua vida, o amor apaixonado, a sua transparência da Face do Pai

Comer a carne e beber o sangue do Senhor é nutrir-se do coração ardente de amor, é assimilar o segredo da vida mais forte que a morte, e descobrir que Deus é mais íntimo do que eu comigo mesmo.

Comer e beber Dele é descobrir que somente Ele alimenta e acalma as nossas inquietações, que só Ele pode dar força e direção para nossa vida, que só Ele pode preencher nossas vidas de beleza na quotidianidade.

Alimentar-nos d’Ele significa o nosso "sim" ao projeto de vida que Jesus revelou da Cruz; é renunciar a ser os arquitetos da sua própria vida e entrar em comunhão com o seu plano de amor.

Jesus não quer que suas palavras sobre o pão descido do céu sejam interpretadas de modo alegórico ou como uma imagem figurativa. Ele pede para que sejam percebidas exatamente como soam, sem qualquer adição do pensamento humano. Elas são assim, assim devem ser acolhidas, acreditadas e vividas.

O pão que desceu do céu é Ele, Jesus. Ele veio na carne para habitar entre nós, para se fazer nosso alimento e nossa bebida de vida eterna. Ele realmente nos dá a sua carne para que nós a comamos para não morrermos para sempre.

Quando, no entanto, Ele anuncia esse mistério, os seus ouvintes, ao invés de se abrirem à fé, começaram a discutir fortemente. Eles gostariam de compreender primeiro, para depois acreditar. Com o mistério, primeiro o acolhemos, vivemos, fazemos com que se torne nossa carne e nosso sangue, O transformamos em nossa história. Vivido e concretizado em nós, começamos a compreendê-Lo de acordo com a medida de inteligibilidade contida nas palavras que o expressam e manifestam.

Jesus não se apressa em explicar o mistério. Ele simplesmente se limita a reafirmar a realidade de seu corpo e de seu sangue juntamente com a outra realidade de tomar, comer e beber. A carne deve ser tomada e comida. O sangue deve ser tomado e bebido. Somente assim eles se tornam em nós comida e bebida de vida eterna. 

Jesus, porém, nos revela por que nós não morreremos para sempre: porque com a sua carne comida e com o seu sangue bebido, nós viveremos interiormente para Ele, na procura do perfeito cumprimento da Sua vontade. Eis a grande diferença abissal que distingue a Eucaristia do maná. O maná era só o pão da terra, alimentava o corpo do povo de Deus no deserto. A Eucaristia, ao invés, é Deus mesmo que nos alimenta e nós nos unimos ao Senhor. Quem assim se alimenta e se deixa converter e tornar-se “nova criatura” poderá também experimentar a possibilidade de fazer o bem.

Neste dia em que manifestamos, diante de um mundo em mudança, a nossa fé na presença real de Cristo Eucaristia e nos comprometemos com um mundo novo, peçamos à Virgem Maria, Mãe da Redenção, aos Anjos e Santos que nos ajudem a viver e aumentar a fé nesse mistério. 

Que a passagem de Cristo na Eucaristia pelas nossas ruas e praças nos comprometa a sermos, também nós, pessoas alimentadas pela Eucaristia, que passam pelas estradas do mundo proclamando Cristo Jesus Ressuscitado, vida para o mundo!


† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Simplesmente barro nas mãos do Oleiro



Não existe arte sem amor, quadro sem pintor, vaso sem oleiro…

A Sagrada Escritura utiliza-se de inúmeras figuras e expressões para revelar Deus e o Seu modo peculiar de agir na história. Entre estas descrições quero destacar a imagem do oleiro, fortemente acentuada pelo profeta Jeremias (cf. Jer 18,1-6ss).
Nestes versículos apresentados pelo profeta, a manifestação divina é expressa com a figura de um oleiro, que molda como a argila aqueles que Lhe pertencem. Esta descrição é rica em expressão e em significado, pois desvela a ação e o amor do Eterno, possibilitando-nos compreender o "singelo jeito" com que Ele nos acompanha e faz crescer.
Este Oleiro sabe, melhor que nós mesmos, do que realmente precisamos e o que nos fará essencialmente felizes. Sua ternura nos convida ao abandono total aos Seus cuidados, os quais sempre nos proporcionarão o melhor, mesmo quando não formos capazes de compreender Seu distinto modo de agir. Por isso, para caminhar no território da fé, a confiança se estabelece como realidade mais necessária do que a compreensão… Uma confiança "filial" de alguém que se descobre amado e cuidado e que, por isso, crê que o Oleiro está sempre agindo e realizando o que é melhor para seus dias.
De fato, este Oleiro enxerga além. Ele contempla as surpresas que ao futuro pertencem e, na Sua Divina Providência, cuida de nós: ora retirando de nosso caminho o que nos é prejudicial, ora acrescentado algo àquilo que nos falta. Isso nos desautoriza a pretensão de querer condicionar a ação de Deus à nossa limitada maneira de enxergar e compreender as coisas, antes, nos confessa que é preciso confiar naquilo que Ele faz e em Seu modo particular de fazê-lo.
A confiança nos abre à percepção de que Deus sabe retirar excessos e acrescentar às ausências no momento certo. Sabe o que realmente nos fará crescer e amadurecer (e crescer às vezes dói). E maduro é quem sabe perder sem apegos, para que assim possa ser despojado do que não lhe é essencial e acrescentado no que realmente lhe falta.
Não existe arte sem amor, quadro sem pintor, vaso sem oleiro… Obra mais bela é a que se constrói pelas mãos do artista, do Oleiro. Só Ele traz em Seu coração os belos sonhos que poderão retirar um rude barro de sua "não existência".
O barro não pode se moldar a si mesmo. Para vir a ser, ele precisa confiar-se aos sonhos e à sensibilidade do oleiro, pois as mãos dele comportam a medida certa, entre firmeza e delicadeza, para trabalhar esta substância abstrata transformando-a em uma linda obra de arte.
Da mesma forma, não existe parto sem dor, maturidade sem perdas, felicidade sem se  ater ao essencial. É necessário confiar n’Aquele que nos molda, e mesmo quando a firmeza de Suas mãos parecer pesar demais sobre nós, confiemo-nos à Sua iniciativa e criatividade, que sempre realizará em nós o que é melhor.
A felicidade faz morada em nosso coração à medida que nos assumimos como aquilo que realmente somos: “Barro, apenas barro, nas mãos do Oleiro!”

Diácono Adriano Zandoná
Fonte: Canção Nova

quinta-feira, 16 de junho de 2011

VINDE PARA A MESSE!



“A messe é grande, mas os operários são poucos. Rogai ao Senhor da messe que mande mais operários” (Lc 10,2)

Somos chamados enquanto participantes da messe do Senhor a trabalhar em favor do anúncio do reino. Somente quem faz parte da novidade da messe e assume-a como sua é que tem disposição para servi-la.

Ao observar Jesus no seu tempo, notamos que eram poucos os discípulos se compararmos com o tamanho e importância da missão que possuíam. No entanto, cada um deles de alguma forma aderiram ao projeto do Mestre e o tomaram como seu, pois acreditavam em suas palavras e a partir delas entenderam o verdadeiro sentido da vida percebendo que o Mestre possuía “palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

Assim como os primeiros discípulos todos nós somos chamados a fazer parte da messe, todos nós somos convidados a ofertar nossas vidas e consagrá-las ao Senhor, respondendo das mais variadas formas (seja como leigos ou leigas, como consagrados ou consagradas ou até mesmo padres), percebendo que semelhante a época de Jesus a messe ainda carece de operários engajados pela causa da Palavra de Deus e dispostos a doar suas vidas para que outros conheçam Cristo e sintam o amor que Ele tem para com a humanidade. Portanto chegamos a conclusão que só é possível ser operário se fizemos a experiência com o amor de Cristo, pois é Ele o combustível que alimenta a messe.

Seja qual for a maneira como você quer se tornar operário da messe, é importante que você saiba caro leitor – A IGREJA PRECISA DE VOCÊ! JESUS PRECISA DE VOCÊ! Necessita de que com nossas palavras, ações e com o amor que vem do Pai e que nós sentimos, queiram anunciar a salvação a outras pessoas. Necessita de você JOVEM que quer doar sua vida a Cristo inteiramente desejando ser mais do que trabalhador, desejando ser discípulo do amor.

Tenha um Dia Abençoado!

domingo, 12 de junho de 2011

O NAMORO



         Nossa vida é marcada por nossas decisões. Uma decisão para dar certo precisa de discernimento e preparação. A improvisação, a precipitação, a banalidade têm causado muita dor, stress, decepção. O sucesso de um projeto depende da preparação, do ensaio, do treino. Nesta lógica está o namoro.

Para ser pai, mãe, esposo, esposa, o bom senso pede muita preparação. Lares não se improvisam. Por outro lado, nós aspiramos ser amados de um modo definitivo, fiel, verdadeiro. Não queremos ser vitimas dos outros e nem ser explorados e enganados por interesses, mentiras, segundas intenções. O namoro é esta procura de amar e ser amado, é o início de um projeto de vida que se plenifica no casamento e na família.

A vida humana é um caminhar feito de etapas. O namoro é uma etapa de procura, de amadurecimento, de conhecimento. Não há verdadeiro namoro onde não existe o diálogo sincero, a reta intenção, o respeito pelo outro. Confundimos namoro com o “ficar”, a prática do sexo precoce, ou como um passa-tempo no qual existe envolvimento íntimo, mas, sem a maturidade, a preparação, o afeto do coração. Atropelamos as etapas e somos vítimas da imaturidade, das paixões, do egoísmos próprios e os dos outros.

Não é fácil ser jovem, nem namorar de um modo cristão. Mas, temos bons exemplos de namoro cristão entre os jovens da RCC, Focolarinos, Opus Dei, Canção Nova e tantos outros. Vivemos uma balbúrdia sexual promovida pela sociedade da satisfação e a cultura da banalização. Em assunto de sexo não podemos cair na dramatização nem no permissivismo. A educação da afetividade requer a valorização da disciplina, da renuncia como exigência do amor. Amor é exigente.

É missão dos pais, orientar seus filhos em relação ao namoro. As conseqüências de um namoro desordenado são muitas, a saber: gravidez precoce, doenças sexuais, criança abandonada, pratica do aborto. Um namoro precoce de mais é desaconselhável, porem, quando demorado demais pode acabar em prejuízo e até em injustiça. Como reparar o dano de um namoro doloroso quando depois de tantos anos a pessoa é abandonada, devendo recomeçar tudo na vida e ter perdido tempo e avançado em idade?

Nós cristãos podemos e devemos oferecer aos jovens um outro tipo de namoro, sem erotização, mas cheio de ternura, alegria, amor, felicidade. Quem acredita na família, no matrimonio como um projeto de vida que une duas almas, dois futuros, duas existências, duas consciências, não pode namorar de qualquer jeito. A civilização do amor livra-nos do embrutecimento e da obsessão erótica. A carne não basta para saciar a sede de amor e de Deus do coração humano. O remédio do amor cura nossas debilidades. Assim, o namoro é fruto do amor, caminho para o amor definitivo que se expressa no consenso matrimonial.

A volúpia maior da vida não é a da carne, é a do espírito, da ética, do bem e do amor. A arte de amar tem sua fonte em Deus que é amor. A religião ajuda muito os jovens na experiência do namoro porque facilita o perdão, a aceitação das limitações, o desejo de correção, a perseverança, a ordenação dos afetos. Namoro é experiência de espiritualidade. Onde dois ou três estão reunidos, Jesus promete estar presente. O namoro cristão acontece “a três”: os namorados e presença de Jesus Cristo, O enamorado e esposo da humanidade.

Deus quis explicar seu amor pela humanidade em categorias de aliança, matrimônio, amor esponsal, família. O Sacramento do matrimonio, é símbolo do amor de Deus pelo mundo. Deus é enamorado, desposado, apaixonado pela humanidade. Assim, o namoro tem um vínculo natural com o amor de Deus. Um autêntico namorado é um presente de Deus para sua namorada e vice-versa. A graça de Deus acompanha todos os passos de nossa vida, especialmente a trajetória do amor humano, a saber: o companheirismo, a amizade, o namoro, o noivado, o casamento, a família. É possível um namoro santo mesmo contando com nossas fraquezas.

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina
Folha de Londrina, 11 de junho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fé, Conversão e Vocação


Texto: Pe. Jairson Hellmann, scj

“O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”. (Lc 1, 26-38)

Neste tempo dedicado as orações e reflexões sobre a vocação e missão é conveniente lembrar a caminha que já se percorreu. No primeiro texto em julho se motivou o tema do Amor de Deus, em agosto o tema foi o pecado e a virtude, em setembro o tema da pessoa de Jesus Cristo e as Escrituras. O momento agora é de refletirmos sobre a fé, a conversão e nossa vocação.

Certa vez o rabino Henry Sobel numa reportagem da Veja trouxe a seguinte definição: fé é a coragem de continuar sempre, com Deus, contra Deus e jamais sem Deus. Sim a fé é importante. No tempo de Jesus os judeus se vivessem bem a “lei” já se salvavam, não precisava de fé, misericórdia e conversão. Alguns cristãos ainda hoje vivem assim. Obedientes a lei, vivem perfeitamente os ritos, as prescrições, a norma, “o pode, não-pode”, “é – não é pecado”, céu – inferno, salvação – condenação. São realidades que incidem sobre nossa fé, nossa oração, nossas práticas. A imagem de Deus formada e alimentada em cada um de nós, conduz as nossas orações e atitudes. Quando estamos por contar a participação nas missas, a quantidade de terços temos a tendência de um relacionamento com um Deus-contador, comerciante.

A liturgia nesses domingos próximos do final do tempo comum tem nos ensinado que o justo vive pela fé. Fé não é sentimento ou atitude de pessoas fracas, quem reza e alimenta sua fé tem a consciência que é passageiro nessa terra e que tem um Deus que nos conduz como “bom pastor” como amigo e Pai. Quem aprofunda a fé com orações, estudos, partilhas e práticas de amor tem grande humildade, grandeza de alma, idoneidade e maturidade humana. Não se tem muita fé, ela geralmente é comparada com poucas porções “grão de mostarda, fermento”, mas faz toda uma diferença na vida de quem a possui. Fé é a coragem de continuar sempre, jamais sem Deus. Fé é dom e tarefa, graça e compromisso consigo, com os outros e com Deus.

A humildade produzida pela fé é fundamental no processo de conversão. Quando o anjo visita Maria ele promete da parte de Deus: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”. Conversão é estar aberto ao Espírito Santo de Deus e perceber o poder do Altíssimo na vida pessoal e ainda saber-se seguido pela “sombra” de Deus. Sabemos que há sombra quando o caminho se faz a favor da luz. Conversão é caminhar no rumo da luz que é Deus. É ver iluminado por Deus nossas sujeiras, limitações e pecados e lavar na misericórdia divina. Deixando assim a sombra do Altíssimo acompanhar nossos passos, nossos caminhos, nossa vida como fez na vida de Maria. Eis aqui, a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua vontade!

Cada um de nós tem a sua vocação. Somos todos chamados por Deus para participar da Sua vida e do Seu reino. Cada um é chamado a ocupar no reino um lugar especial. Se encontrarmos esse lugar, seremos felizes. Em todo caso, é nosso destino a obra de duas vontades, e não de uma só. A nossa vocação não é uma loteria sobrenatural, mas a ação recíproca de duas liberdades e, portanto, de dois amores. É inútil tentar por o problema da vocação fora do contexto da amizade e do amor.

A Providência, mais que um termo filosófico é a manifestação da vontade da Deus-Trindade. A Bíblia fala de nosso Pai celeste. A Providência é, por conseguinte, mais do que uma instituição: ela é uma Pessoa. Essa Pessoa é o nosso Pai. E mesmo o termo Pai é uma metáfora ainda insuficiente para conter todos os abismos do mistério: porque Ele nos ama mais do que amamos a nós mesmos, como se fossemos Ele mesmo. Ele nos ama, além disso, com nossas próprias vontades, com as nossas próprias decisões. Ao programarmos nossos planos e projetos de vida, não podemos esquecer a importância e a dignidade da nossa liberdade. Porque a nossa liberdade é um dom que Deus nos deu a fim de amar-nos mais perfeitamente e ser, por Sua vez, amado mais perfeitamente por nós. O amor puro é, ao mesmo tempo, prudente. Ilumina-o uma clarividente discrição. Aquele que nos ama tem em vista com isso dar espaço à nossa liberdade, de tal modo que ousemos escolher por nós mesmos sem outra certeza que a de ser-Lhe agradável pela nossa própria intenção. Cada pessoa tem a vocação de ser alguém: mas ela deve compreender claramente que, para responder à sua vocação, não pode ser outra pessoa senão ela mesma. O que significa isso? É sendo Cristo pelo batismo é que somos nós mesmos. Para uma pessoa, ser é viver. Uma pessoa só vive como pessoa quando conhece a verdade, ama o que conhece e age de acordo com o que ama. Dessa forma, ele torna-se a verdade que ele ama. Assim, nós nos tornamos Cristo pelo conhecimento, fé, conversão e pelo amor.


terça-feira, 7 de junho de 2011

VOCAÇÃO X PROFISSÃO



Já é tradição na Igreja do Brasil propor para agosto – mês vocacional- uma reflexão sobre o tema vocação, aquela palavrinha que responde uma das perguntas que todos nos fazemos quando jovens , ao olhar para o futuro: “o que eu quero ser e fazer da minha vida?”. Você deve estar lembrado que há tempos, nesta página, vimos trabalhando os diferentes aspectos da vida e da personalidade do ser humano, dificuldades, motivações, escolhas … Tudo está muito ligado ao nosso futuro. Embora vivamos cercados de fatos, notícias, que apregoam a nulidade da vida, nós continuaremos repetindo que ela é o valor mais precioso que Deus nos deu. Sendo assim, a pergunta é óbvia: o que queremos fazer com esta preciosidade? O Criador espera de cada um de nós uma resposta, porque todos somos seus vocacionados.

Somos seres inacabados vamos iniciar com a premissa que todos já conhecemos: ao vir ao mundo somos inacabados; porém, com muitos “ingredientes” em potencial para a formação da nossa personalidade. É bom lembrar que nada nos é dado de ‘mão beijada’; tudo é conquistado. Mas, é um lutar, uma busca cuja meta traz muita alegria e satisfação. Nesse trabalho de realização pessoal, vem nos ajudar dois elementos que fazem parte do processo: vocação e profissão. Para muitos, vocação e profissão são a mesma coisa. Na realidade, porém, elas têm conotações diferentes, também se há relação entre elas, às vezes até se juntam.

Características de cada uma:
A vocação está na linha do ser. Ser o quê? Ser pai, ser mãe, ser religioso/a, sacerdote, assumir algum ministério para o bem da comunidade… É um chamado de Deus e uma resposta da pessoa, para um determinado ‘estado de vida’. Já a profissão está na linha do fazer. Fazer o quê? Fazer uma ação como professor, médico, agricultor, cientista, faxineiro, técnico etc. As profissões são muitíssimas, ao passo que as vocações, como estado de vida, são poucas. A vocação é um chamado de Deus para uma missão específica; é uma resposta pessoal consciente e livre. A profissão é uma atividade que a pessoa escolhe de acordo com as aptidões e possibilidades. A profissão é fonte de renda, de dignidade e que dá direito a uma aposentadoria. A vocação é doação gratuita e permanente. A profissão não é única; a pessoa pode ter mais do que uma e pode também mudar quando não estiver satisfeita. A vocação é única e definitiva. Na profissão se trabalha determinadas horas; na vocação, a dedicação é de 24 horas por dia, como acontece com pai, mãe, padre, pastor, religioso … Porém, ambas precisam de muita dedicação e amor. Trabalhar só pelo dinheiro pode até trazer muito sucesso, mas no fundo fica o vazio. A pessoa que descobre a sua vocação e consegue fazer uma escolha certa da profissão é uma pessoa feliz, realizada. Muitas vezes vemos pessoas bem sucedidas profissionalmente, mas não satisfeitas. De repente percebem que o que lhes falta é uma vocação, um estado de vida estável. Neste caso a realização se torna completa.

Para refletir:
1. Se de fato acreditamos que a vida é um presente que recebemos do Criador, que atitudes devemos ter em relação a ela no nosso dia a dia?
2. Ser um vocacionado é uma predileção de Deus que chama, que escolhe. Como deverá ser a nossa resposta?

Fonte: Missionários da Consolata

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O BOM PASTOR NOS CONDUZ



“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27)

Ser ovelha é aceitar Jesus como Bom Pastor, é deixar-se conduzir pelas suas veredas confiando em suas palavras e no seu cuidado para com o rebanho.

A condição de ovelha exige ainda obediência e atenção. Obediência, pois para ser ovelha é preciso ouvir a voz do Pastor, e ao ouvir a sua voz fazemos aquilo que Ele nos pede, tentando a cada dia adentrar com afinco ao rebanho.

A atenção também é necessária, pois os caminhos aos quais somos conduzidos muitas vezes contêm atalhos, e se não estivermos com o foco no Pastor, poderemos entrar em um desses atalhos e acabar nos perdendo. É devido a isso que na nossa vida de ovelhas pertencentes ao rebanho de Jesus deve-se ser utilizado todo o nosso zelo para não desviarmos do foco central.

Caros irmãos, o propósito de Jesus Bom Pastor é ter todas as suas ovelhas ao seu lado, é cuidar daquelas que já estão perdidas. O profundo desejo do Pastor é fazer de todas as suas ovelhas participantes do grande rebanho da salvação.

Que a cada dia assumamos Jesus como o verdadeiro Pastor de nossas vidas, e que seus ensinamentos perscrutem os nossos corações para nos tornarmos cada vez mais seus.

Tenha um Dia Abençoado!