sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fé, Conversão e Vocação


Texto: Pe. Jairson Hellmann, scj

“O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”. (Lc 1, 26-38)

Neste tempo dedicado as orações e reflexões sobre a vocação e missão é conveniente lembrar a caminha que já se percorreu. No primeiro texto em julho se motivou o tema do Amor de Deus, em agosto o tema foi o pecado e a virtude, em setembro o tema da pessoa de Jesus Cristo e as Escrituras. O momento agora é de refletirmos sobre a fé, a conversão e nossa vocação.

Certa vez o rabino Henry Sobel numa reportagem da Veja trouxe a seguinte definição: fé é a coragem de continuar sempre, com Deus, contra Deus e jamais sem Deus. Sim a fé é importante. No tempo de Jesus os judeus se vivessem bem a “lei” já se salvavam, não precisava de fé, misericórdia e conversão. Alguns cristãos ainda hoje vivem assim. Obedientes a lei, vivem perfeitamente os ritos, as prescrições, a norma, “o pode, não-pode”, “é – não é pecado”, céu – inferno, salvação – condenação. São realidades que incidem sobre nossa fé, nossa oração, nossas práticas. A imagem de Deus formada e alimentada em cada um de nós, conduz as nossas orações e atitudes. Quando estamos por contar a participação nas missas, a quantidade de terços temos a tendência de um relacionamento com um Deus-contador, comerciante.

A liturgia nesses domingos próximos do final do tempo comum tem nos ensinado que o justo vive pela fé. Fé não é sentimento ou atitude de pessoas fracas, quem reza e alimenta sua fé tem a consciência que é passageiro nessa terra e que tem um Deus que nos conduz como “bom pastor” como amigo e Pai. Quem aprofunda a fé com orações, estudos, partilhas e práticas de amor tem grande humildade, grandeza de alma, idoneidade e maturidade humana. Não se tem muita fé, ela geralmente é comparada com poucas porções “grão de mostarda, fermento”, mas faz toda uma diferença na vida de quem a possui. Fé é a coragem de continuar sempre, jamais sem Deus. Fé é dom e tarefa, graça e compromisso consigo, com os outros e com Deus.

A humildade produzida pela fé é fundamental no processo de conversão. Quando o anjo visita Maria ele promete da parte de Deus: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”. Conversão é estar aberto ao Espírito Santo de Deus e perceber o poder do Altíssimo na vida pessoal e ainda saber-se seguido pela “sombra” de Deus. Sabemos que há sombra quando o caminho se faz a favor da luz. Conversão é caminhar no rumo da luz que é Deus. É ver iluminado por Deus nossas sujeiras, limitações e pecados e lavar na misericórdia divina. Deixando assim a sombra do Altíssimo acompanhar nossos passos, nossos caminhos, nossa vida como fez na vida de Maria. Eis aqui, a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua vontade!

Cada um de nós tem a sua vocação. Somos todos chamados por Deus para participar da Sua vida e do Seu reino. Cada um é chamado a ocupar no reino um lugar especial. Se encontrarmos esse lugar, seremos felizes. Em todo caso, é nosso destino a obra de duas vontades, e não de uma só. A nossa vocação não é uma loteria sobrenatural, mas a ação recíproca de duas liberdades e, portanto, de dois amores. É inútil tentar por o problema da vocação fora do contexto da amizade e do amor.

A Providência, mais que um termo filosófico é a manifestação da vontade da Deus-Trindade. A Bíblia fala de nosso Pai celeste. A Providência é, por conseguinte, mais do que uma instituição: ela é uma Pessoa. Essa Pessoa é o nosso Pai. E mesmo o termo Pai é uma metáfora ainda insuficiente para conter todos os abismos do mistério: porque Ele nos ama mais do que amamos a nós mesmos, como se fossemos Ele mesmo. Ele nos ama, além disso, com nossas próprias vontades, com as nossas próprias decisões. Ao programarmos nossos planos e projetos de vida, não podemos esquecer a importância e a dignidade da nossa liberdade. Porque a nossa liberdade é um dom que Deus nos deu a fim de amar-nos mais perfeitamente e ser, por Sua vez, amado mais perfeitamente por nós. O amor puro é, ao mesmo tempo, prudente. Ilumina-o uma clarividente discrição. Aquele que nos ama tem em vista com isso dar espaço à nossa liberdade, de tal modo que ousemos escolher por nós mesmos sem outra certeza que a de ser-Lhe agradável pela nossa própria intenção. Cada pessoa tem a vocação de ser alguém: mas ela deve compreender claramente que, para responder à sua vocação, não pode ser outra pessoa senão ela mesma. O que significa isso? É sendo Cristo pelo batismo é que somos nós mesmos. Para uma pessoa, ser é viver. Uma pessoa só vive como pessoa quando conhece a verdade, ama o que conhece e age de acordo com o que ama. Dessa forma, ele torna-se a verdade que ele ama. Assim, nós nos tornamos Cristo pelo conhecimento, fé, conversão e pelo amor.


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