quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma vocação para todos


Por: Ricardo Pinto

  Ao afirmar na encíclica Novo millennio ineunte que "o horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral é a santidade", João Paulo II lança o desafio de fazer com que toda vida eclesial - com suas celebrações, seus serviços e suas iniciativas - possa ir ao encontro do desejo de santidade que muitos cristãos nutrem. A missão da Igreja ficaria distorcida se ela descuidasse do objetivo de alimentar espiritualmente quem tem em Deus o motivo de sua realização pessoal e aspira à santidade. A bem da verdade, a santidade é a vocação de todo ser humano. 

  Mesmo se configurando como uma experiência pessoal com Deus, a santidade amadurece no amor aos outros. Se no milênio passado foi valorizado de modo especial um estilo de santidade eminentemente individual, neste milênio, iniciado há pouco, a Espiritualidade de Comunhão - apresentada como a espiritualidade típica da Igreja - exige uma santidade também comunitária. 

  Nesse sentido, toda a vida eclesial deve se tornar um espaço privilegiado de experiência coletiva de fé: uma espécie de "fogo" onde a qualidade do amor entre os batizados é provada. Se santidade quer dizer amar, significa que todas as dimensões da vida humana devem estar revestidas do caráter batismal, do amor absoluto de Jesus manifestado na sua morte e ressurreição. Não somente os aspectos típicos de uma vida espiritual como a oração e a devoção dizem respeito à vida de santidade. Não se pode, de fato, viver um amor estático ou sem forma. O amor se explica com fatos que nascem da vida de fé. Santo é, então, quem acredita e ama com a medida do "maior amor que dá a vida pelos amigos", como o Evangelho propõe.

  Sem dúvida, o percurso de santidade é pessoal. A Novo millennio ineunte considera esse percurso como uma "verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos". Todavia, o ponto de convergência dessa pedagogia deve ser sempre a construção de um mundo mais justo, solidário e próximo de Deus. 

  De fato, hoje, podemos encontrar artistas, cientistas, políticos, educadores, advogados, operários e donas de casa percorrendo itinerários espirituais pessoais e comunitários, deixando a marca de Deus em tudo, a partir do que são e do que fazem. Imersos num contexto cultural em oposição aos valores cristãos, são os santos de hoje que, como os de sempre, buscam superar o egocentrismo com a gratuidade e a autossuficiência com o abandono à vontade de Deus, que é sempre amor.

  Os santos amadurecem a cada dia amando com o mesmo amor de Cristo. A vida de santidade não pode ser programada segundo critérios e prescrições somente humanas. Há um apelo permanente em deixar-se conduzir pelo Espírito. Nesse sentido, entende-se porque a Igreja continua apresentando, como modelos de santidade, vidas como a da jovem Chiara Luce Badano e tantas outras que, no Brasil e no mundo, assumiram a beleza do desafio de se tornarem santos, amando.
 
  * O autor é sacerdote, especialista em Espiritualidade e em Teologia Moral – artigo retirado da Revista Cidade Nova, mês de outubro de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário