segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Apaixonados e proféticos


Apaixonados e proféticos
Por: Ricardo Pinto


No atual contexto de secularização, pode parecer estranho que jovens se interessem pela consagração da própria vida a Deus. Mas é o que está acontecendo de forma crescente em muitos lugares. Tanto nas pequenas quanto nas grandes cidades, verifica-se um aumento do número de vocações à vida consagrada. Não é difícil encontrar em seminários, movimentos, congregações e novas comunidades eclesiais, jovens estudantes, mas também engenheiros, pedagogos, publicitários, advogados e até médicos que se sentiram chamados a deixar tudo para doarem-se totalmente a Deus no serviço à humanidade. Jovens apaixonados e proféticos.
A decisão que tomaram - incompreensível numa sociedade que os considera loucos - vai além do simples fato de romper com o meio em que estão inseridos, porque se trata de uma ruptura visceral e profunda com o próprio eu, muitas vezes propenso a dominar, para assumirem um jeito de viver na gratuidade da entrega do que se é e do que se tem por amor aos outros. A visão do papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, que fala sobre a formação sacerdotal, define claramente quem são esses jovens. São "portadores dos ideais que fazem caminho na História" como "sede de liberdade, reconhecimento do valor incomensurável da pessoa, necessidade de autenticidade e transparência, novo conceito e estilo de reciprocidade nas relações entre homem e mulher, procura sincera e apaixonada por um mundo mais justo, solidário e unido, abertura e diálogo com todos, empenho em favor da paz".
 Numa sociedade onde se valoriza o poder e a posse, há jovens que decidem por um estilo de vida baseado na pobreza evangélica, apostando viver a comunhão dos bens, a exemplo dos primeiros cristãos que "possuíam tudo em comum". Num contexto de fortes estímulos sexuais, há jovens que escolheram livremente uma vida pura e casta, na comunhão fraterna. Diante da sede de poder, há jovens que decidiram estar disponíveis para ir a qualquer lugar ou para assumir qualquer função ou trabalho, desde dormir com os pobres da metrópole de São Paulo, a partir para o Haiti e ajudar na reconstrução social e cristã do país.
Desde dedicar-se com profissionalismo e técnica à programação evangelizadora de uma TV a rezar toda a vida no silêncio do claustro de um mosteiro; desde procurar ser construtor de unidade em um país marcado pelo comunismo a ser portador de unidade e fraternidade em ambientes marcados pelos conflitos entre culturas e religiões. Espontâneos, dóceis e fortes são esses jovens. Esquecendo-se de si mesmos, comprometem-se até as últimas consequências com a causa de Jesus Cristo.
Amam além das palavras, e estão decididos a nunca trair o Evangelho. Por sonhar em deixar a marca de Deus na História, estão fazendo a diferença na Igreja e restituindo a muitos o encanto por ela. Isso nos leva a pedir: "Envia-nos, Senhor, mais desses jovens apaixonados e proféticos!"

*O autor é sacerdote, especialista em Espiritualidade e em Teologia Moral. 

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